São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Itália vota hoje limite ao poder da mídia

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os italianos decidem hoje, numa série de plebiscitos, se é conveniente permitir a concentração de um império de mídia nas mãos de uma só pessoa.
A pessoa, no caso, é o magnata Silvio Berlusconi, ex-premiê e dono do segundo maior grupo empresarial da Itália, o Fininvest.
Sob essa holding estão três redes de TV (Rete Quattro, Canale Cinque e Italia Uno), revistas, jornais, uma editora e uma grande agência publicitária, que administra a publicidade em todo o grupo.
1. supressão da possibilidade de uma pessoa ter mais de uma TV;
2. proibição de mais de um bloco de anúncios em filmes na TV;
3. os dois sistemas publicitários, público e privado, não poderão mais vender espaços para anúncios em mais de uma TV;
4. abolição da monopólio do Estado na RAI, a TV estatal;
Os outro oito plebiscitos tratam de questões díspares, como contribuição e representação sindicais, abertura de lojas aos domingos, eleições municipais e máfia.
Para serem aprovados, os plebiscitos precisam ter a metade mais um dos votos dos cerca de 48 milhões de eleitores italianos.
Essa é a maior preocupação dos partidários do ``sim" (centro-esquerda). A ``overdose" de questões colocadas criou um clima de mau humor entre os italianos.
Uma semana atrás, 63% dos eleitores não sabiam do que tratavam os 12 plebiscitos. Confusos, muitos podem deixar de votar, especialmente se o clima estiver bom, neste começo de verão.
O resultado das urnas não precisa necessariamente ser obedecido. O Parlamento é obrigado apenas a interpretar o desejo dos eleitores e refazer as leis reprovadas.
A Itália permite hoje que uma pessoa possua até três canais de TV. A lei, de 1990, foi redigida por um amigo de Berlusconi e foi feita sob medida para ele, que à época já possuía três TVs.
Caso o plebiscito sobre a propriedade de TVs seja aprovado, Berlusconi terá de se desfazer de dois de seus três canais. O empresário australiano Rupert Murdoch é um dos interessados.
As pesquisas de intenção de voto estão proibidas há semanas na Itália, o que torna imprevisível o resultado das urnas. Para a lei italiana, as pesquisas têm um poder grande de influenciar o voto. A proibição de divulgação visa dar tempo para a reflexão do eleitor.
O plebiscito tem sido um instrumento muito usado na Itália para fazer passar leis que encontram resistência no Parlamento. Foi assim com o divórcio e o aborto.
O filósofo Norberto Bobbio vê, porém, uma indigestão causada pelo excesso de plebiscitos.

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