São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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D.Paulo pede a FHC anistia de sequestrador

JOMAR MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

D.Paulo pede que FHC anistie sequestrador
Em carta ao presidente, o arcebispo de São Paulo intercede pelo grupo que sequestrou Abílio Diniz em 89
O arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, enviou carta ao presidente Fernando Henrique Cardoso intercedendo em favor da anistia aos sequestradores do empresário Abílio Diniz, que serão julgados na quarta-feira pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
A carta, que foi enviada há 40 dias e que até agora não havia sido divulgada pelo Palácio do Planalto, será um dos trunfos da defesa do grupo que, em 1989, sequestrou o empresário em São Paulo.
Flagrados pela polícia no mesmo dia em que Fernando Collor de Mello era eleito presidente -17 de dezembro de 89-, os dez participantes da operação foram condenados em primeira instância a penas que variavam de seis a 15 anos de reclusão.
Posteriormente, o Tribunal de Justiça de São Paulo unificou e ampliou a pena aplicada a cada sequestrador para 28 anos, decisão que foi mantida em 1993 pelo Superior Tribunal de Justiça.
Agora, o advogado de defesa do grupo, Antonio Carlos de Almeida Castro, tenta mais uma vez tirar os integrantes da prisão.
Ele pede que Supremo Tribunal Federal considere o sequestro do empresário um crime político.
Se o Supremo concordasse com o que pede o advogado, os julgamentos anteriores seriam anulados, pois cabe à Justiça Federal julgar os crimes de motivação política.
Seria, assim, aberta a possibilidade de nove sequestradores -cinco chilenos, dois argentinos e dois canadenses- serem beneficiados com expulsão do país.
Os dois canadenses são David Spencer e Christine Lamont. O governo do Canadá vem pressionando o governo brasileiro a transferi-los para seu país.
O único brasileiro envolvido, o cearense Raimundo Rosélio, poderia ser anistiado se o sequestro for considerado crime político.
É justamente aí que ganha importância a carta de d. Paulo Evaristo ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os decretos de expulsão e anistia só podem ser assinados pelo presidente se o Supremo concluir que o crime foi político.
Se houver, porém, recusa de Fernando Henrique Cardoso em conceder o benefício, o grupo irá a novo julgamento na Justiça Federal e poderá ser condenado a até 12 anos de prisão -então pela acusação de crime político.
Em sua carta, segundo o advogado Almeida Castro, d. Paulo manifesta ao presidente a convicção de que os sequestradores agiram por motivação política e pede que lhes conceda a expulsão e a anistia.
Direitos humanos
Fernando Henrique também recebeu moções do presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, o petista Nilmário Miranda (MG), e de deputados de partidos de esquerda do México, contendo pedidos semelhantes ao de d. Paulo.
Segundo a polícia, os sequestradores de Abílio Diniz agiram com frieza e até adquiriram um caixão onde poderiam transportar o corpo do empresário.
Detalhes como esse, entretanto, não abalam a convicção do advogado Almeida Castro de que o Supremo reconhecerá o caráter político do crime.
``Até hoje, na cadeia, eles se comportam como um grupo político. O problema é que escolheram o momento e o local errado para um ato político infeliz", diz o advogado.
A Folha tentou falar com d. Paulo às 21h de ontem. Sua assessoria informou que ele não poderia atender a reportagem.

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