São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O Córdoba

FRANCESC PETIT

Esse é o nome de uma das cidades mais encantadoras da Espanha. Na cálida e fascinante Andaluzia, terra de touradas, toureiros, flamenco e muita paixão mística, Córdoba tem como sua maior atração uma mesquita, construída pelos árabes.
As histórias sobre essa cidade são muitas, todas fascinantes, daí não entendo por que a fábrica Seat deu esse lindo nome a um carro médio.
A Seat hoje faz parte do Grupo Volkswagen, não é exatamente um Volkswagen. A história da indústria automobilística espanhola é da maior importância.
Ela se iniciou no seu maior pólo industrial, Barcelona, no começo do século; lá se fabricou, até 1930, talvez um dos melhores automóveis já construídos na história do automobilismo: o Hispano Suíça, uma verdadeira obra de arte da engenharia e do talento espanhol.
Nesse tempo, Barcelona era a fábrica da Espanha. Na época, a Companhia Marítima Terrestre produzia trens e locomotivas, navios e grandes motores marítimos.
A indústria de tecidos era uma das mais importantes da Europa. Nos anos 20, Barcelona contava com duas indústrias automobilísticas, uma fábrica de motores de avião, três fábricas de motos, projetores cinematográficos. Os teares fabricados lá eram famosos no mundo todo -um parque industrial ao nível da Inglaterra, França e Alemanha.
Com a Guerra Civil, a fábrica Hispano Suíça ficou paralisada, certamente produzindo veículos de combate.
Com a vitória do general Franco, que odiava Barcelona e os catalãos, acabou essa maravilhosa indústria automobilística.
Ele fez um acordo com a Alfa Romeu para fabricar ônibus e caminhões, o mesmo que o Brasil fez com a Fábrica Nacional de Motores, nessa época.
Por volta de 1950, os engenheiros da fábrica criaram um carro esporte chamado Pegaso.
Foi um toque de loucura e vaidade para levantar a moral da deprimida ditadura espanhola -um carro com desenho muito agressivo, imitando os esportivos italianos Maseratti, Ferrari, Alfas, mas que ficou famoso no mundo todo.
Era um carro veloz e chamativo, digno de qualquer playboy cafona. Por ser muito veloz, acabou ganhando algumas corridas de turismos esportivos, o que ajudou a lhe dar mais fama.
Mais tarde, foi feito um acordo com a Fiat, parecido com o que tinha sido feito com a Rússia. Assim, a Fiat montou uma fábrica na Espanha, que chamaram de ``Seat" -uma estatal espanhola, pessimamente administrada e cabide de empregos para os burocratas do regime.
Entre os carros mais conhecidos, estavam os famosos 127 e 131, que rodam até hoje pelas estradas espanholas.
Com o fim da era franquista e a vitória do socialista Felipe González, o novo governo, moderno e progressista, iniciou uma desestatização em massa e uma grande reconversão industrial no país.
Nos anos 80, veio a grande depressão da Seat, que era então obsoleta, e seus veículos não podiam competir com os importados ou mesmo com as montadoras multinacionais instaladas na Espanha. O buraco da Seat era cada vez maior.
Assim, o governo socialista resolveu vender a empresa. Primeiro, à Fiat, que não se interessou, pois se tratava de um elefante velho e pesado. Além disso, a casa italiana também estava passando por profundas mudanças.
Assim, finalmente se achou o Grupo Volkswagen, que ficou com a fábrica Seat.
Pelo que li na época nos jornais espanhóis, a casa tinha o compromisso de manter a marca Seat como um símbolo da indústria espanhola e o mesmo número de funcionários. Em contrapartida, o governo absorveu as dívidas pendentes da empresa.
Em 1993 e 1994, a Seat acumulou sérias dívidas, e a matriz alemã ameaçou desativar as fábricas, a menos que o governo espanhol fizesse uma injeção de capitais.
Finalmente, após muitas confusões, foram resolvidos os problemas, que, ao que parece, eram provenientes de exageradas despesas com a nova fábrica de Martorell, ``Barcelona".
Essas são algumas informações e histórias para quem comprar um Seat Córdoba.
É sempre interessante conhecer as origens do veículo que você vai dirigir, saber que ele não é nenhum órfão, que tem pai e mãe, e é hoje hispano-alemão. Também é bom saber que seu magnífico estilo é do designer italiano Giorgetto Giugiaro.

Texto Anterior: Bolsa dos EUA quer negociar real
Próximo Texto: Usando a cultura para vender
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.