São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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'Cavaleiros do Zodíaco' faz mix mitológico

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 13/06/95
O desenho animado "Os Cavaleiros do Zodíaco" vai ao ar na Rede Manchete e não na Rede Record como dizem subtítulo e legenda na pág. 5-8 da edição de ontem da Ilustrada.
O seriado ``Os Cavaleiros do Zodíaco" (Rede Manchete, diariamente às 10h30) reúne numa mesma batalha, mitologia grega, deuses, guerreiros cósmicos e super-heróis. E faz um sucesso infantil intrigante. Principalmente tratando-se de uma produção mais que barata, com mera roupagem high-tech e narrativa truncada.
Armaduras, Hércules, Pégasus, Athena, Andrômeda convivem em um ambiente de colunas greco-romanas, auras, cosmos e raios. A referência a elementos mitológicos milenares em um contexto de guerra planetária, produz um universo atemporal.
Tecnicamente, o desenho é muito primário. A produção em série utiliza animações muito simples. Muitas vezes a ação resulta de movimentos de câmera sobre desenho parado. ``Zoom in", ``zoom out", ``travelling". Os desenhos se sobrepõem, o herói em um plano e o vilão no outro. O cenário aparece sempre meio descolado da ação.
Cavaleiros do bem enfrentam guerreiros do mal em um espaço cósmico abstrato. Os cavaleiros, homens pequenos e magros, em cores claras e brilhantes, contrastam com os tons tétricos do céu e dos cenários de natureza hostil. Guerreiros solitários lutam em montanhas de neve, mares gelados e penhascos perigosos. Golpes de raios energéticos projetam os corpos no espaço. O universo do desenho é meio onírico. As sequências não obedecem a uma lógica narrativa linear.
Cada um dos sete lutadores conquistou uma armadura associada a uma constelação depois de passar por dolorosas provações. Lutam sem armas, sua causa é do bem. Trata-se de uma questão de energia. O cosmo de cada um é representado por um brilho difuso que envolve cada guerreiro antes de um ataque.
``Cavaleiros do Zodíaco" não é para iniciantes. É difícil acompanhar os episódios. As referências mitológicas são confusas e pronunciadas com dificuldade na dublagem. Há passagens de elaborações subjetivas com narração em off. Os enfrentamentos são homem a homem e a força de cada um depende de empenhos íntimos.
Para entender as histórias do desenho não é suficiente assistir a um ou dois dos episódios. A oposição simples entre o bem e o mal é revestida por tramas longas e complicadas. Essa intrincada rede de significados embaralhados fomenta um intenso comércio infantil de bonecos, álbuns e filmes.
Essa salada mista mobiliza referências a tradições variadas. As investidas destruidoras do mal lembram as inúmeras tramas de super-heróis americanos. Mas esses heróis orientais são sentimentais. Há uma emoção profunda na sua luta por restabelecer algum laço fraternal perdido. As conquistas são provações sofridas, mas fortalecedoras.
Alusões aos deuses gregos ilustram a ousadia oriental em se apropriar de signos da civilização ocidental. Mas nesse ambiente, em vez de apresentar uma explicação do mundo, a mitologia grega compõe um mosaico eclético com pretensões universais. O fascínio que esse lucrativo amálgama de luta, melodrama e misticismo eletrônico exerce sobre as crianças permanece um mistério.

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