São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Ray Charles evita repertório previsível

SÉRGIO AUGUSTO
DA SUCURSAL DO RIO

Para ver mais uma vez Ray Charles, desta feita na fria vastidão do Metropolitan, o Canecão da sociedade emergente da Barra da Tijuca, os cariocas tiveram de aturar um tira-gosto literalmente digno deste nome: o tecladista Delmar Brown, da patota do Sting, figurinha fácil nas noites do Rio.
Antes de entrar em cena, Mr.C, como de hábito, mandou sua banda esquentar o ambiente durante 15 minutos. Deu para ela tocar três números, abrindo para o standard ``Just Friends".
Apesar de seus 17 membros, o som por ela produzido, de tão tíbio e abafado, mais parecia saído de um radinho de pilha. A culpa, claro, não é dela, mas da acústica do Metropolitan.
Pilotando um Yamaha KX88, cuja versatilidade sonora permitiu que ele imitasse, a certa altura, o vibrafone de Lionel Hampton, o rei Charles do rhythm'n'blues, do gospel e do soul não decepcionou os seus admiradores.
Aos 64 anos -e aparentando mais só pelo longo tempo de serviço-, ele continua o mesmo.
Ora veludo, ora rascante, ainda não esgarçou as cordas vocais, nem perdeu a vibração roqueira. Ficou apenas, por mera opção estilística, um pouco mais lento e langoroso.
Disso deu provas logo no prieiro número, um clássico de Hoagy Carmicahel que tem a idade dele, já lhe rendeu milhares de dólares e reapareceu ainda mais lamentoso e pianíssimo.
Ao abrir o show com ``Georgia On My Mind", Ray Charles semeou a suspeita de um repertório previsível, afinal desconfirmada.
Com exceção de ``I Can't Stop Loving You" e ``What'd I Say?", o espetáculo não primou pelo óbvio.
Ou seja, nada de Beatles e outras relíquias previamente anunciadas pelo manager do cantor.
Gratificante, mas não imperdível.

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