São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Caixa apresenta piano moderno de Bud Powell

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quase três décadas após sua morte, o jazzista norte-americano Bud Powell (1924-1966) começa enfim a receber da indústria fonográfica um tratamento à altura de seu valor musical. Nada mais justo para um pianista e compositor que deu forma ao jazz moderno.
A caixa ``The Complete Bud Powell on Verve" (importada pela Polygram) chega ao mercado brasileiro três meses após o lançamento de uma edição similar, com gravações da Blue Note/EMI.
A comparação é inevitável. Em seus cinco CDs (um a mais que a concorrente), a caixa da Verve reúne 102 faixas, contra 68 da Blue Note. No entanto, o período coberto pela Verve é mais restrito: as gravações vão de 1949 a 1956, enquanto a Blue Note abrange o período 1947-1963.
Em termos de apresentação, a caixa da Verve também leva vantagem. Com um design sofisticado, que reproduz os álbuns dos antigos discos em 78 rotações, traz um livro de 150 páginas; o livreto da Blue Note tem apenas 40.
Claro que o mais importante é mesmo a qualidade da música. Quanto a isso, as gravações da Blue Note estão acima de qualquer suspeita -sempre foram consideradas entre as melhores de Bud.
Mas os cinco CDs da Verve ajudam a desbancar de vez um antigo e vazio lugar-comum sobre a discografia de Bud Powell: o de que suas gravações após 1951, época em que passou mais de um ano internado em uma clínica para doentes mentais, são inferiores.
Trata-se de um clichê semelhante ao aplicado sobre outra mítica estrela do jazz: a cantora Billie Holiday (1915-1959).
Alguns puristas costumam depreciar as gravações do final da carreira da Lady Day, culpando seu mergulho nas drogas e no álcool.
Porém, se a voz de Billie realmente se transformou com o passar dos anos, estas gravações provam que Bud não perdeu sua maestria ao piano, mesmo depois de ter atravessado um longo envolvimento com drogas, várias crises emocionais e internações.
Foi essa vida trágica, por sinal, que serviu de base ao belo filme ``Por Volta da Meia-Noite", do francês Bertrand Tavernier, com o saxofonista Dexter Gordon, no papel principal. Basta ouvir as frenéticas versões de ``Bebop" e ``52nd Street Theme", que fecham o álbum. Gravadas em 1956, elas mostram que a técnica de Bud continuava exuberante.
Liderando nove diferentes trios, integrados por feras como o baixista Ray Brown e o baterista Max Roach, Bud recria deliciosos standards (uma de suas especialidades) e exibe composições próprias.
Uma das mais curiosas é ``Mediocre", cuja forma irregular e a melodia dissonante remetem a Thelonious Monk (1917-1982). Ao batizá-la, é provável que o inseguro autor a tenha comparado às composições de seu padrinho musical. Pura ironia, porque Bud Powell jamais passou perto da mediocridade.

Título: The Complete Bud Powell on Verve
Músicos: Ray Brown e Percy Heath (contrabaixo); Max Roach, Art Blakey e Kenny Clarke (bateria), entre outros
Lançamento: Verve/Polygram
Formato: caixa com 5 CDs e livro
Quanto: R$ 110,00 (em média)

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