São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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A nova hegemonia

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - Paralelo aos embates para garantir as reformas no Congresso e às tensões na área econômica, PSDB e PFL estão comprometidos com um projeto comum: transformar a aliança que os une em pacto duradouro.
Enquanto PMDB, PT e PPR, consumidos por suas crises internas e pela falta de perspectivas estratégicas, parecem paralisados diante da ação do governo, PSDB e PFL tratam de se reformular para governar por longo tempo.
Com o fim da ditadura Vargas, em 45, o país viveu um período de quase 20 anos em que dois partidos -o PSD oligárquico e o PTB reformista-, através de pactos, foram os donos do país.
Quando os militares tomaram o poder, em 64, o sistema pluripartidário criado artificialmente por Vargas tinha adquirido vida própria e legitimidade. Foi violentamente extirpado e, em seu lugar, imposto um novo, bipartidário.
O novo modelo durou outros 20 anos, quando começou a ser implodido por suas próprias contradições. A Arena governista foi paulatinamente derrotada pelo MDB oposicionista.
Surge então, em duas etapas (1979 e 1985), o atual quadro partidário. Não se pode identificar, neste novo período, uma clara hegemonia partidária.
É um período de dispersão e de fragmentação. PMDB, PFL e PSDB participaram parcialmente dos governos Sarney e Collor sem que nenhum tenha conseguido de fato implementar um projeto político próprio.
PSDB e PFL ambicionam, agora, iniciar novo e longo período de dominação. Para isso, precisam mudar.
O PFL está em campanha para perder a imagem de coronel nordestino e parecer moderninho. E o PSDB, através do líder José Anibal, avisa que precisa ``ajustar" o seu programa (social-democrata) ao do governo (liberal).
As diferenças ideológicas e programáticas entre os dois estão cada vez menos nítidas. A reforma eleitoral e partidária que vem por aí deve atender aos objetivos estratégicos dos dois.
A briga maior entre eles será mesmo pelo domínio do eleitorado de centro. Mesmo aí podem se entender. O PSDB empresta o verniz social-democrata que o PFL precisa para perder a cara de direita e recebe o banho de neoliberalismo necessário para permanecer confiável.
Podem inclusive chegar à conclusão de que não precisam de duas siglas para um mesmo projeto.

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