São Paulo, segunda-feira, 12 de junho de 1995
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Bomba-relógio

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Preparem-se para a encenação: depois do pito presidencial, as equipes da Fazenda e Planejamento, lideradas por seus respectivos chefes Pedro Malan e José Serra, devem aparecer esta semana de mãos dadas, numa conveniente troca de afagos. Bobagem: aqui, em Brasília, ninguém acredita. Nem, muito menos, Fernando Henrique Cardoso.
Fernando Henrique Cardoso montou uma bomba-relógio e preferiu deixá-la no colo. Mais cedo ou mais tarde, veremos que existe uma solução de bom senso: acabar com a Fazenda e Planejamento, unificando-os nas mãos de apenas um ministro.
O ideal seria um ministro que unisse as virtudes de Malan e José Serra, ambos intelectualmente admiráveis. Malan tem trânsito internacional e, por não ser candidato, provoca menos resistências políticas. É, entretanto, demasiadamente tímido e não sabe se comunicar, está longe de passar a imagem de um líder apto a bancar pressões.
Serra é um brigador, comunica-se bem, mas está marcado por suas abertas pretensões eleitorais -à medida que se aproximem eleições, vão aumentar as resistências e suspeitas sobre até onde determinada decisão está inspirada pela busca de votos.
Nomes são apenas um detalhe. O essencial é o seguinte: o país retrocedeu ao extinguir o Ministério da Economia. São fundamentais clareza e comando unificado da política econômica para se garantir a estabilidade. Não é o que existe hoje: dois grupos com visões diferentes se digladiam (e com cada vez mais ferocidade) por espaço.
PS - Merecem reflexão as suspeitas sobre até onde as cotas de importação são boas mesmo para o país ou para as montadoras. Se os números estiverem corretos, os automóveis são 10% do total das importações e estão caindo. Como se não bastasse, são ministros de São Paulo e Minas, onde estão as montadoras, os maiores entusiastas das cotas. A imprensa prestou um serviço ao vazar a discussão.

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