São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Banco Mundial recomenda combate à pobreza

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Mundial está oferecendo aos países da América Latina e Caribe um receituário com sete lições de política econômica, retiradas da crise do México.
Entre elas, uma das mais importantes sugere que os governos se concentrem no combate à pobreza, pois está provado que estabilidade e crescimento econômico não conduzem automaticamente a uma melhor distribuição de renda.
A proposta está no centro da 1ª Conferência Anual do Banco Mundial sobre Desenvolvimento da América Latina e Caribe, iniciada ontem no Rio, no hotel Copacabana Palace. A conferência foi aberta pelo governador do Rio, Marcello Alencar.
O documento traz a assinatura de Shahid Javed Burki, vice-presidente do Banco Mundial para América Latina e Caribe, e Sebastian Edwards, economista chefe do banco para a mesma região.
As lições são as seguintes:
1. a conta corrente de um país, resultado que inclui exportações menos importações e as saídas de dólares para pagamentos de juros, prestações da dívida e serviços diversos, não pode ser superior a 3% do PIB (Produto Interno Bruto, o conjunto de bens e serviços produzidos no país). No México, o déficit em conta corrente foi a 8% do PIB, esgotando a capacidade de pagamento do país. No Brasil, a expectativa do governo para este ano está em torno de 2%;
2. capitais externos de curto prazo são perigosos. Devem ter sua entrada controlada, como faz o Chile. Devem ser estimulados os investimentos estrangeiros em máquinas, fábricas etc.;
3. são essenciais ganhos de produtividade, eliminando-se custos e obstáculos à produção;
4. taxas de câmbio fixas são perigosas, porque tendem a sobrevalorizar a moeda local. Quando a taxa for fixa (caso da Argentina, com 1 peso igual a 1 dólar) ou mais ou menos fixa, como no Brasil (onde o dólar varia de R$ 0,88 a R$ 0,93), é preciso pesada austeridade no controle das contas públicas e da moeda em circulação no país. Os funcionários do Banco Mundial acham que Argentina e Brasil estão fazendo a coisa certa. Já o México, com câmbio fixo, estourou suas contas públicas;
5. a dívida do setor público não pode estar concentrada no curto prazo, como no México (títulos venciam a cada 28 dias);
6. é preciso ter um Estado forte, não com empresas industriais e comerciais, mas com instituições para promover a competição, proteger o consumidor e prover um ambiente econômico estável;
7. a estabilidade e o crescimento econômico no México não beneficiaram os pobres, nem permitiram distribuição de renda. A pobreza torna-se uma ameaça à própria estabilidade. É preciso, portanto, políticas específicas para distribuir os benefícios da estabilidade.
Burki está convencido de que não há nada de errado com o modelo das reformas liberais. O que houve no México, disse, foi uma sucessão negativa de eventos de curto prazo, que poderiam ter sido evitados por uma melhor política.
Para ele, América Latina e Caribe têm condições de iniciar um ciclo de crescimento sustentado.

Texto Anterior: Deputado quer barrar medida
Próximo Texto: Governo estuda fim de aplicação diária
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.