São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Prefeitura de SP despeja 80 famílias na zona norte

Moradores estão em área destinada a projeto habitacional

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo está despejando cerca de 80 famílias da favela Nova Tietê, na Vila Maria (zona norte), exatamente no local onde constrói uma das unidades do projeto habitacional Cingapura.
O fato depõe contra a propaganda oficial do projeto. Os anúncios garantem que moradores de favelas abrangidas pelo Cingapura ganhariam apartamentos ou teriam as casas reurbanizadas.
O Cingapura é um programa de verticalização e urbanização de favelas. A prefeitura já licitou 26 favelas, onde pretende gastar R$ 125 milhões. Com esse dinheiro, planeja erguer 382 prédios, com um total de 8.436 apartamentos. Até agora, foram inaugurados 300 apartamentos.
Na favela Vila Nova Tietê, já foram construídos quatro prédios de 40 apartamentos cada.
A prefeitura alega que as 80 famílias se instalaram no local há menos de dois anos e não teriam direito a entrar no projeto. No local dos barracos dos despejados, será construído um campo de futebol, que seria uma reivindicação dos próprios moradores.
A reportagem da Folha esteve na favela na última sexta-feira, acompanhada da vereadora Aldaíza Sposati (PT), que está denunciando o despejo.
No local, moradores que estão sendo despejados apresentaram documentos que, segundo eles, provariam que moram no local há mais de dois anos.
Entre esses documentos, estão certidões de nascimento de crianças com mais mais de dois anos, onde já constava o endereço da favela. Além disso, foram apresentadas notas fiscais antigas com o mesmo endereço.
Os moradores também apresentam o fato de seus barracos ficarem no centro da favela como ``prova" de que eles estão lá há mais de dois anos.
Alguns moradores, mais exaltados, afirmam que vão resistir ao despejo. ``Eles só podem tirar a gente daqui se derem outra casa", diz o faxineiro Francisco da Conceição. ``Pode vir até a polícia que eu não saio", disse.
Segundo ele, funcionários da prefeitura disseram que o despejo começará ainda nesta semana.
Outro morador ameaçado de expulsão, o mecânico José Arnaldo Pereira de Araújo, 43, afirmou que uma assistente social da prefeitura disse para ele ``ir comprando a passagem para voltar para o Nordeste".
O mecânico criticou, ainda, o projeto: ``Se eu recebesse um apartamento, teria que pagar R$ 57,00 por mês, mais o condomínio e as contas de luz e água. É muito caro para um favelado."
Duas famílias já foram transferidas para barracos embaixo do viaduto Tatuapé por não estarem cadastradas.
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria de Habitação, foram feitas fotos aéreas das favelas para garantir que nenhum barraco ficasse de fora do cadastramento. As fotos comprovariam que os moradores que estão sendo despejados entraram depois do cadastramento, atraídas pelo projeto.
Para a assessoria, as denúncias de Sposati são falsas e visam difamar o Cingapura.
O Decon (Departamento Estadual de Polícia do Consumidor) instaurou inquérito policial para apurar denúncia de propaganda enganosa feita contra o projeto.
``A propaganda afirma que serão atendidas 220 mil famílias, mas este número não condiz com o que tem sido feito até agora", diz Sposati.
Segundo a vereadora, para atingir este número seria necessária a construção de 43 mil apartamentos, sendo que, até agora, foram entregues 300.

Texto Anterior: Metrô pode antecipar reajuste
Próximo Texto: Nutricionista critica atraso de montadora
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.