São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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Leilão de NTN vazou

LUÍS NASSIF

Houve vazamento do leilão de NTN cambial na quinta-feira passada. Às 10h30 da manhã, o Boletim Eletrônico, da Agência Dinheiro Vivo, apurou junto a grupo restrito de instituições que o Banco Central e a Secretaria do Tesouro preparavam-se para anunciar o edital de leilão. Informavam, inclusive, o montante a ser colocado -por volta de US$ 1,5 bilhão.
O anúncio do leilão sinalizaria a disposição do governo em manter o câmbio contido. Quem dispusesse da informação privilegiada simplesmente venderia dólar pela máxima do dia, tanto no comercial quanto no futuro, aproveitando-se da procura de instituições que apostavam no ajuste cambial.
Às 12h50, o edital foi anunciado. Apenas o montante era diferente -de US$ 2 bilhões. As cotações do dólar caíram na hora. O comercial, que abriu em alta e chegou a atingir R$ 0,9145 (0,38%), ficou 0,11% abaixo do fechamento de quarta. O dólar futuro para junho saiu de R$ 0,9315, da máxima do dia, para R$ 0,9275.
Por duas horas e vinte minutos, os ``insiders" puderam nadar de braçada.
Na quinta à noite, o secretário do Tesouro, Murilo Portugal, entrou em contato com o Boletim Eletrônico. Mostrou-se surpreso pelo fato de a informação ter circulado duas horas antes do anúncio, já que o número de pessoas que sabia dela, no âmbito do governo, era extremamente restrito.
Confirmou, igualmente, que a idéia inicial do Tesouro e do BC era um lançamento de US$ 1,5 bilhão. E que esse valor tinha sido analisado em reunião fechada, na noite da terça-feira anterior.
Cotas de carros
Atrás da questão das cotas para a importação de automóveis há dois problemas concretos a resolver. O primeiro, o déficit estrutural na matriz automotiva, depois do processo de abertura da economia e de apreciação do real, no ano passado.
O segundo, a irresponsabilidade nas negociações com a Argentina no chamado Tratado de Ouro Preto, pelo qual a Argentina pode exportar livremente automóveis para o Brasil e as exportações brasileiras estão limitadas pelas cotas da Argentina. Estratificada essa posição, qualquer montadora que resolver se instalar na América Latina, obviamente, irá escolher a Argentina.
Há, pois, problemas concretos demandando solução. A questão é que o sistema de cotas tem mais contra-indicações do que vantagens, tanto na essência quanto na forma como está sendo encaminhado.
Na essência, por ir na contramão de tudo o que se diz e se pensa sobre globalização da economia, além de criar privilégios injustificáveis. Se a Renault não tivesse entrado no país por meio de exportações, jamais teria sido instada a investir em uma fábrica internamente.
Na forma, porque o país não comporta mais mudanças de ambiente econômico tomadas unilateralmente pelo governo. Tem-se que institucionalizar mudanças em fóruns adequados, para impedir que cada ministro que entre tente moldar o país de acordo com sua cabeça.

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