São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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Ao Brasil, basta querer para meio-vencer

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, ficou demonstrado que não existe asfixia, sufoco, claustrofobia para quem procura os espaços, para quem procura o ar, o objetivo maior no futebol contemporâneo.
A esquadra inglesa, bem argamassada, era um fubá (aliás, nome de um time de futebol na minha infância) que deu liga entre as duas fileiras de quatro marcadores no primeiro tempo.
Isto por que o Brasil entrou em campo sem cobiça, sem ambição, inapetente. Se a esquadra inglesa não agredir, não partirá desta nau a insensatez de cutucar o tigre, não importa o tamanho da vara.
(Casíssimo muitíssimo entre nossíssimo, o meio-campo ainda anda bastante descompassado, sem batucada de bamba e cadência bonita do samba.
O setor de ponte-aérea alçada para o vôo dos atacantes já havia demonstrado as suas carências contra os japs, mas, se a vitória dispensa explicações, ela também serve para obscurecer verdades.
Diante da fragilidade aguçada pelo nervosismo do império do gol nascente, mal deu para esconder que Dunga, Doriva e Zinho, apesar dos gols, estavam longe da capacitação obrigatória para o desafio.
Volta Sampaio e o primeiro tempo contra a esquadra inglesa repete a mesma laia-ladaia-ave-maria: vazia de graça, desorganizada, deixando espaços latifundiários na defesa que também desafinava).
A vantagem de um ataque poderoso, altivo, brioso, é que ele submete os defeitos do time aos seus desígnios. E também para abrir as fissuras no dique adversário.
Então o Brasil recebe o primeiro golpe, o primeiro sinal de combate. A esquadra inglesa atira a primeira pedra, iá-iá. Decreta-se o olho por dente, dente por olho.
Vou te contar: os olhos já não podem ver. Coisas que só um coração pode entender. O futebol brasileiro é uma caixinha não de surpresas, mas de um elemento intangível, a vontade de marcar.
Não precisa mudar muito o esquema, não precisa mudar muito os jogadores, basta deixar correr, a sangue quente, a palo seco, a toda espora, o desejo da felicidade de marcar a ferro e fogo.
E aí já mudou o estilo, já mudou ``mood", já mudou a feição. Os olhos se abrem, se arregalam: desperta a gula, o apetite, o tesão do gol. Esta fagulha, esta centelha, esta faísca que muda um time.
Little Jr. dá um pé na sorte, porque sem sorte nem a minha legião de super-heróis aguentaria o tranco e daria o troco. Goleiro mal estacionado, gol, mas este jogo não pode ser um a um.
Esquadra inglesa parte de novo para a ofensiva mas agora seu mundo, como diria a Maysa, caiu. Vasto mundo novo que se descortina e o Little Jr. deixa o Ronaldinho na boca do balão, ôps, bolão.
Não temos tempo de temer a morte: ao Brasil basta querer para já ser meia-vitória. E samba é sempre a mesma história.
E se tivessem privatizado (privatizar não é entregar para os clubes, que é ``robada") o Pacaembussauro, como diria o Roberto Campos de gramado que dá pra jogar, não haveria riscos. É ou não é?
E o Romário que até quando erra na mosca, acerta, némesmo Sávio? U-tererê para você também.

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