São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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Morre negro atacado por racistas em Lisboa

JAIR RATTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LISBOA

Morreu ontem em Lisboa o cabo-verdiano Alcindo Bernardo Monteiro, vítima de violência racista de "skinheads" portugueses.
Monteiro, 27, estava na madrugada de domingo no Bairro Alto, centro da noite lisboeta, quando foi agredido por um grupo de 50 "skinheads".
Ele deu entrada no hospital na madrugada de domingo e ficou em coma até ontem de manhã.
O ataque a Alcindo foi o mais grave realizado pelos "skinheads" na madrugada de domingo.
A partir da 1h, por duas horas, eles atacaram todos os negros que passavam no local com pedras, cacos de garrafas de cerveja, ferros e paus. Houve 12 feridos.
Apesar de a delegacia mais próxima ficar a 200 metros, a polícia só agiu uma hora depois, prendendo nove pessoas (sete homens e duas mulheres, com idades entre os 18 e os 42 anos).
Os nove detidos foram apresentados ontem ao juiz, que decidiu mantê-los em prisão preventiva até o julgamento.
Na entrada do tribunal, os parentes dos acusados apresentaram os argumentos da defesa: diziam que a polícia tinha prendido as pessoas erradas.
A sessão do tribunal teve de ser interrompida no meio da tarde por causa de uma ameaça de bomba. Um telefonema às 3h provocou a evacuação do tribunal. Não foi encontrado nenhum explosivo.
Durante as 13 horas em que o juiz interrogou os nove acusados, formou-se uma manifestação do lado de fora, reunindo organizações anti-racistas e associações de imigrantes.
Preocupado com as possíveis reações de vingança das comunidades de imigrantes, o presidente Mário Soares lançou um apelo por calma aos africanos em Portugal.
Soares afirmou que a maioria dos portugueses está solidária com a família de Alcindo.
Fernando Ká, da Associação de Cabo-Verdianos em Portugal, pediu a demissão do ministro da Administração Interna, Manuel Dias Loureiro, que julga responsável pela demora na ação da polícia.
Na semana passada, Loureiro afirmou no Parlamento que o aumento da criminalidade no país está ligado ao crescimento da imigração. Em Portugal, cerca de 60% dos imigrantes são originários dos países da África negra de língua portuguesa.
Ká também disse que os tribunais portugueses não agem com rigor com rigor contra o racismo.
No ano passado, dois "skinheads" que deixaram um negro desmaiado em cima de trilhos de trem foram absolvidos de tentativa de assassinato, porque naquele dia houve uma greve de maquinistas, e os trens estavam parados.

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