São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sivam, radares às cegas

Reportagem publicada ontem nesta Folha mostrou que o caríssimo projeto Sivam não vai resolver problemas da Amazônia em nome dos quais foi elaborado. Embora tenha sido orçado em US$ 1,4 bilhão, tenha sido considerado de ``segurança nacional" e tenha sido realizado sem licitação pública, o projeto de vigilância não vai proteger o meio ambiente amazônico, não vai combater o narcotráfico nem impedir invasões da região.
Mesmo que conseguisse informações suficientes, o governo não teria condições de transformá-las em ação. Para combater o desmatamento, por exemplo, há menos de 50 fiscais do Ibama para vigiar toda a Amazônia brasileira.
Pior é a ineficiência dos radares para detectar aviões de traficantes. Eles costumam voar abaixo da altitude ao alcance dos radares. O Ministério da Aeronáutica diz que o combate às drogas é parte periférica do projeto. Mas foi um dos argumentos utilizados na negociação de empréstimos com os EUA.
Foi também em nome do combate ao tráfico que o governo defendeu a urgência da concretização do Sivam. Segundo especialistas, os outros objetivos do projeto não teriam a mesma pressa, seja pela falta de estrutura do governo na região, seja porque parte da Amazônia já é coberta por um sistema de proteção ao vôo, ainda que mais simples que o do resto do país.
Para ter na Amazônia um sistema de proteção ao vôo equivalente ao de outras regiões, o governo despenderia bem menos do que o valor orçado no Sivam. Por que, então, o Brasil se dá ao luxo de financiar um empreendimento tão caro, a toque de caixa e sem licitação?
O projeto necessita de uma ampla revisão já. Com transparência. É possível que o país não necessite de um pacote da magnitude do Sivam. Que seja, no mínimo, executado aos poucos, de acordo com as reais necessidades da nação.

Texto Anterior: De privilégios e miragens
Próximo Texto: O câmbio e as voltinhas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.