São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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O câmbio e as voltinhas

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Depois das mudanças constitucionais, vai chover dinheiro estrangeiro na horta Brasil, certo? Apenas em parte. De fato, o interesse pelo Brasil já existia antes mesmo de se iniciar o processo de reforma da Constituição (refiro-me ao investimento direto, o mais saudável deles).
O tamanho do país e seu mercado potencial fazem do Brasil uma atração em qualquer circunstância, com ou sem mudanças constitucionais. Com elas, obviamente, fica ainda mais atraente.
Acontece que parte dessa atração é embaçada por uma questão teoricamente conjuntural, que nada tem a ver com a Constituição. Chama-se câmbio. A Folha apurou junto a um setor do empresariado estrangeiro que há hesitações em investir dinheiro no Brasil sem que fique mais claro o panorama cambial.
Os motivos são de duas naturezas. Quem pretende vender no mercado interno, mas também exportar, fica com medo de ser punido por um real sobrevalorizado. Quem pretende vender apenas no mercado interno, mas enfrenta concorrência dos importados, teme o que parece ser abertura excessiva da economia, que beneficia o importador em detrimento do produtor local.
Essa talvez seja a principal divergência de fundo na equipe econômica, muito mais do que a questão de se impor ou não cotas para a importação de automóveis.
As cotas, assim como a elevação para 70% do Imposto de Importação, foram apenas a maneira de driblar um problema em que ninguém quer mexer, por temor aos efeitos sobre a inflação.
Fica lá então o obstáculo chamado câmbio, e o governo vai dando voltinhas em torno dele.
A julgar pela reação de investidores estrangeiros, as voltinhas não vão resolver coisa alguma. Esse pessoal gostaria de ter segurança sobre a política cambial, o que não se consegue com artifícios como a imposição de cotas, a elevação temporária da tarifa de importação e assim por diante.
Cedo ou tarde, essa questão terá que ser enfrentada. Com ou sem baixas na equipe econômica.

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