São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 1995
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O perigo do falso bonzinho

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Um dos maiores perigos da vida pública é o falso bonzinho. Nutrido pela ignorância, o falso bonzinho ostenta idéias consensualmente simpáticas, mas, se aplicadas de supetão, produziriam um prejuízo várias vezes maior do que as vantagens que promete. Temos, agora, um perfeito exemplo do falso bonzinho.
Com apoio de 310 deputados ganhou tramitação de urgência, no Congresso, projeto que fixa o limite dos juros em 12% ao ano -a medida já foi aprovada no Senado. Quem não gostaria de juros baixos? E, aí, está a força do falso bonzinho -como sua proposta é simpática, seus oponentes são os ``maus".
Caso esse bando de irresponsáveis tenha sucesso, o Brasil simplesmente quebra -pena que os lobistas empresariais não usem sua habitual histeria para fazer advertência tão óbvia, quando existe, de fato, motivo para alarme.
Neste exato momento, uma limitação dos juros de 12% provocaria: 1) aquecimento da economia, pressionando ainda mais os preços; 2) entrariam menos dólares, aguçando a crise das contas externas; 3) o real sofreria abrupta desvalorização; 4) investidores sairiam comprando dólar, aumentando sua cotação; 5) especuladores se refugiariam na compra de terrenos, carros, casas, ouro, dólar, aumentando seu valor.
Espantoso que consequências tão óbvias não sejam levadas em conta pelos senadores ou deputados. É um dos efeitos colaterais da disseminação de informações truncadas pelo movimento contra os juros -aqui, diga-se, os falsos bonzinhos são empresários, seus lobistas e consultores.
PS - Por falar em informação truncada, a Confederação Nacional da Indústria divulga em tom de alarme que, em relação ao mês anterior, as vendas da indústria em abril caíram 15%. Detalhe: comparando-se com o mesmo período do ano passado, cresceram 26%. Mais um detalhe: apesar da chiadeira, as vendas no Dia dos Namorados foram, em São Paulo, 15% mais altas do que na mesma data no passado, segundo a Associação Comercial -aliás, fenômeno semelhante ao Dia das Mães. E há quem diga que estamos vivendo em recessão -só se for recessão de bom senso.

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