São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Malan diz enfrentar o ``homo indexatus"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O hábito brasileiro de criar mecanismos automáticos de correção monetária de salários, contratos e impostos -a chamada indexação- motivaram o ministro Pedro Malan (Fazenda) a criar ontem uma nova palavra: o ``homo indexatus".
``Criamos uma contribuição à espécie humana. Após o Homo sapiens e o Homo faber, criamos o homo indexatus".
Homo sapiens é o nome científico da espécie humana. Homo faber é um termo criado informalmente para designar as transformações do homem a partir da criação das indústrias, no século passado.
Foi uma crítica do ministro da Fazenda à dificuldade de extinção da indexação, que impede tanto a inflação de dar um salto quanto cair muito.
Por isso, o governo enfrenta hoje um dilema. Precisa reduzir a indexação da economia para que a inflação volte a cair mas, ao fazer isto, arrisca-se a obter o efeito contrário.
Se o governo adiantar demais seu projeto de desindexação, pode enfrentar uma indexação informal que aumentaria a inflação.
Por exemplo, o governo acaba com a correção obrigatória anual dos salários pela inflação e os sindicatos negociam com as empresas uma correção mensal, que em tese causa mais inflação.
É esta resistência da indexação que fez Malan definir o brasileiro como um ``homo indexatus".
``A indexação não pode ser alterada a curtíssimo prazo, é uma mudança não só econômica e política, mas também cultural", disse.
Malan não é o primeiro da equipe econômica que usa neologismos para fazer críticas. Durante o regime militar, Edmar Bacha, hoje presidente do BNDES, criou o termo Belíndia -mistura de Bélgica e Índia- para denunciar as injustiças sociais do país.
Recentemente, o deputado Delfim Netto (PPR-SP) criou um novo nome para o país, o Ingana. Seria um país com impostos pesados como a Inglaterra e serviços públicos ruins como os de Gana.
A estratégia que o governo prepara para desindexar a economia inclui o fim dos fundos de curto prazo e da remuneração diária de depósitos, outra prática rotineira na vida dos brasileiros.
Este tipo de aplicação é considerado ``quase moeda" e torna-se um empecilho à estabilidade monetária, já que o dinheiro colocado num banco ``cresce" todo dia.
Para desmontar isso, o Banco Central deve mudar sua atuação no mercado secundário de títulos públicos federais. Ou seja: na negociação destes títulos antes da data do seu vencimento.
A equipe econômica estuda forçar os bancos a extinguir gradualmente estes fundos, retirando a garantia informal dada hoje pelo BC de recompra dos títulos federais em poder do mercado financeiro.
A prática de recompra pelo BC dá aos bancos tranquilidade para operar com fundos que oferecem liquidez diária, que permitem saques a qualquer momento sem perdas para o investidor.
Na medida em que precisam de dinheiro para atender aos saques, os bancos vão ao BC para revender títulos emitidos pelo Tesouro ou pelo próprio BC antes da data prevista de vencimento.

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sobre desindexação na pág. 1-7

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