São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Governo manobra para não votar juros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo recuou e decidiu não enfrentar a votação do limite de 12% ao ano para as taxas de juros. A manobra dos líderes governistas consiste agora em evitar que a Câmara vote o requerimento que pede urgência para a votação.
O presidente Fernando Henrique Cardoso foi informado ontem sobre o expediente e deu sua aprovação. A comunicação foi feita durante o almoço de FHC com a bancada do PSDB em Brasília.
O líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP), já está recolhendo assinaturas para invalidar o requerimento de urgência apresentado na semana passada pela deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ).
Feghali conseguiu que 310 deputados assinassem o seu requerimento -202 da base governista. O presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), pediu a recontagem das assinaturas e concluiu que elas são, na verdade, 297, e não 310.
Pelo Regimento da Câmara, só há uma alternativa para invalidar o requerimento de Feghali -conseguir que metade mais um dos 297 deputados que assinaram o requerimento abram mão de sua vontade e apresentem um novo documento solicitando a retirada do pedido de urgência.
``Grave não é o governo retirar as assinaturas", disse ontem Aníbal, tentando justificar o recuo. ``Grave é votar este projeto e colocar em risco o plano econômico", completou.
Na segunda-feira, o líder do PSDB havia afirmado à Folha que ``ao invés de uma solução regimental, o melhor é ir para a votação".
Ontem, porém, os líderes governistas consideraram temerária a votação, já que muitos dos deputados aliados estão insatisfeitos com as altas taxas de juros. Durante uma reunião no início da tarde, os líderes optaram por uma estratégia ``mais cautelosa", segundo José Aníbal.
Se a estratégia do governo der certo, o limite constitucional para as taxas de juros não entrará em vigor tão cedo.
Antes de ser votado no plenário, o projeto seria debatido por uma comissão especial encarregada de fixar regras para o funcionamento do sistema financeiro.
Somente no caso de a estratégia falhar é que o governo correrá o risco de enfrentar a votação no plenário. Neste caso, os defensores do tabelamento dos juros vão precisar reunir 257 votos -metade mais um dos deputados.
O líder do governo no Congresso, deputado Germano Rigotto (PMDB-RS), não escondeu seu constrangimento com o recuo. Preferiu atribuir a decisão dos líderes dizendo que o governo dispensaria uma nova vitória: ``Para que derrotar a oposição?", indagou.

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