São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Bird adverte para a crise social na região

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A 1ª Conferência Anual do Banco Mundial sobre Desenvolvimento da América Latina e do Caribe terminou ontem, no Rio, com uma boa e uma má notícia.
A boa: os efeitos da crise mexicana parecem superados e os países latino-americanos prosseguem as reformas, com chance de êxito.
A má notícia está toda na área social: a pobreza continua grave, mesmo nos países com crescimento, e a educação é um desastre.
Isso não é propriamente uma novidade. Mas é novidade a verificação de que não se encontra na região qualquer iniciativa nova e consistente na solução dessas dificuldades.
Ou seja, governos que têm sido eficientes nas reformas econômicas continuam atrasados nas reformas sociais.
Dessas avaliações, surgiram recomendações para políticas econômicas e sociais. Na área econômica, houve uma espécie de renovação do ``Consenso de Washington".
A expressão `` Consenso de Washington" foi forjada em um seminário realizado em 1990, no qual se consolidaram linhas de política econômica que marcam as reformas na América Latina.
Segundo o economista William Cline, do Instituto de Economia Internacional, onde, aliás, se firmou o ``Consenso de Washington", essas linhas básicas são: equilíbrio das contas públicas, abertura comercial, privatização, realismo na taxa de câmbio e desregulamentação da economia.
Recomendações
O Banco Mundial (Bird) continua endossando essas recomendações.
Seus funcionários, como o economista Cline, acreditam que o México entrou em crise e outros países da região enfrentam problemas exatamente por não cumprirem aquelas recomendações.
Os pecados do México, nessa visão, foram manter sua moeda muito valorizada, com câmbio fixo, déficits insustentáveis em suas contas externas, e financiados com capitais voláteis, de curto prazo, e gastos do governo exagerados no período eleitoral de 1994.
Segundo Cline, a livre movimentação de capitais não era uma prioridade, nem parte essencial da estratégia. E, assim, o Chile substitui o México como estrela do ``Consenso de Washington".
Chile
As virtudes do Chile são: controla a entrada de capitais de curto prazo; desvaloriza periodicamente sua moeda; é hoje o único país em processo de crescimento sustentado, num ambiente de democracia, com as reformas praticamente completas, como notou Carlos Geraldo Langoni, diretor da FGV.
Mas não deixa de ser frustrante, notou Langoni, que o Chile tenha completado a base de suas reformas no período regime militar.
Hoje, com processos democráticos ainda incipientes na maioria dos países, as reformas tendem a ser descontínuas e heterogêneas.
Por isso, disse Langoni, uma reforma essencial continua sendo das instituições políticas, de modo a consolidar a democracia e garantir o fluxo de reformas.
``Revolução"
A recomendação geral é que a desigualdade social seja combatida com um pacote incluindo educação (falou-se na necessidade de uma ``revolução educativa"), programas sociais e, especialmente, crescimento econômico.
Em resumo, pelo que se observou na conferência do Banco Mundial, a crise do México, se exige acertos no modelo de reformas, não o condenou. A próxima conferência será sobre comércio e a de 1997, sobre questões sociais.

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