São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Muster, lógico

THALES DE MENEZES

Como foi dito nesta coluna há quatro semanas, Thomas Muster acabou vencendo o Aberto da França. Longe de posar como profeta do tênis, é conveniente explicar que, quase sempre, o esporte das raquetes é muito lógico.
Primeiro, porque é um esporte absolutamente individual. Segundo, porque não está preso a um limite de tempo.
O tenista está sozinho (ninguém está falando de duplas, certo?). O espaço na sua metade de quadra é totalmente livre. Diferente do futebol ou do basquete, o adversário não pode derrubá-lo com falta.
Teoricamente, o tenista nem precisa se preocupar com o rival. Se ele se concentrar apenas no seu desempenho, em devolver a bolinha sem errar, ele ganha o jogo.
Bjorn Borg ganhou cinco títulos em Wimbledon assim, sem ligar para o rival, que podia ser Jimmy Connors ou um Zé Mané.
Depois, tem a questão do tempo. Tênis não tem cronômetro. O jogador pode estar perdendo de 6/0 e 5/0 e tem todo o tempo do mundo para virar a partida.
Daí não ter a desculpa de outros esportes, como o basquete, por exemplo, de que um time ``demorou a encontrar seu jogo".
Jimmy Connors foi um dos maiores ``viradores de placar" da história. Seu segredo para isso era a atitude que mantinha durante a partida, no que ele mesmo chamou de ``tática dos 50%".
``Penso que tenho 50% de chances de vencer um ponto, em qualquer circunstância da partida. Que se dane se perdi dois sets. O bom é saber que basta eu ganhar todos os pontos daqui para frente que vencerei", escreveu em sua biografia.
Por isso tudo, se um tenista for melhor do que o outro, ganhará o jogo, com certeza. Se perder, será por contusão ou porque não soube manter a atitude certa no jogo.
Em Roland Garros, venceu o melhor. Muster venceu porque não se contundiu e manteve a confiança que já o fez superar muitos problemas na carreira.
Em 1989, quando estava em ascensão, foi atropelado por um motorista bêbado em um estacionamento de supermercado na Flórida, na véspera de disputar uma final contra Ivan Lendl.
Quem já viu o próprio joelho destroçado e esteve ameaçado até de não voltar a andar normalmente sabe encarar qualquer desafio.
A caminho de ser o maior tenista de todos os tempos no saibro (28 de seus 29 títulos no circuito foram nesse piso), Muster festeja seu maior triunfo. Um triunfo da lógica, com certeza.

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