São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Ser e não ser ainda é a questão

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em 1942, Ernst Lubitsch relançava o ``ser ou não ser" shakespeariano, ao contar a história de um famoso (e vaidosíssimo) ator polonês, de sua mulher, também atriz, e de um oficial que se apaixona por ela.
A seguir, duas tramas se conjugam: uma envolve a invasão da Polônia pelos nazistas e a resistência, à qual se juntarão os atores e o oficial. A outra, o triângulo amoroso, a rede de rivalidades e solidariedades que se cria entre os dois homens.
Essa obra-prima do cinema de humor tem como motivo real a dúvida de Hamlet. O amor e a guerra fazem os seres se questionarem sobre si mesmos. Assim como a solidão, poderia dizer Kevin Costner, autor e ator de ``Dança com Lobos" (Globo, 0h).
Como o oficial que vai para um posto solitário, durante a Guerra de Secessão, ele se pergunta quem é. E, quando topa com os índios, sua identidade branca e civilizada é retalhada. Embora seja um filme irregular, seu ponto forte é o momento de solidão e contato com a terra do oficial: sequências belíssimas e significativas.
Na mesma emissora, às 2h, a questão de ``ser ou não ser" é ligeiramente deslocada no título. O filme, ``remake" do original de Lubitsch, chama-se ``Sou ou Não Sou" e retoma a mesma trama, na mesma época.
Aqui, a distância entre cópia e original é plena: o que era uma reflexão sobre o amor e seus deslizes, a guerra, o teatro e a própria comédia, transforma-se na imitação de tudo isso.
Não uma imitação grosseira, de tal modo que ``Sou ou Não Sou" dá para o gasto, em termos de humor. Mas algo de uma palidez sepulcral perto da grandeza do filme de Lubitsch.
(IA)

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