São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Transporte mais caro

O bolso de muitos dos cidadãos paulistanos sofre a partir da próxima segunda-feira mais uma dura investida. As tarifas de ônibus, metrô e trens urbanos -que respondem pela locomoção da esmagadora maioria da população da cidade- sobem entre 30% e 33%.
Esses aumentos não só têm consequências sociais perversas, como ostentam também uma inoportunidade patente. O país encontra-se num momento delicado da estabilização, e os transportes têm grande impacto sobre a inflação.
Assim, seria de esperar que qualquer aumento nesse âmbito fosse evitado ao máximo e, se imprescindível, justificado à sociedade da forma mais clara, convincente e detalhada. Não é o que acontece.
É desde logo difícil crer que todos os esforços possíveis já tenham sido envidados no sentido de ganhar eficiência no setor. Ao contrário do que muitos infelizmente ainda parecem pensar, elevar preços não é o único meio de reagir à majoração de custos -quando esta realmente existe. Pode-se, ou deve-se, antes cortar gastos e melhorar a produtividade, particularmente em serviços tão essenciais.
No caso do metrô e dos trens -ambos estatais- soma-se ainda o imperativo da racionalização do Estado. Mas mesmo o prefeito poderia incentivar ganhos de eficiência do sistema de ônibus privatizado, em benefício da população.
Mais ainda, os índices de reajuste das tarifas curiosamente situam-se bastante próximos da taxa acumulada do IPC-r (de 32,88%), que inclui incontáveis outros preços em nada relacionados com o setor. Aliás, alguns custos diretamente ligados, como o combustível no caso dos ônibus, não só não aumentaram como chegaram mesmo a cair.
É inevitável assim a suspeita de que se estão repetindo os mesmos procedimentos dos tempos da superinflação, indexando-se um preço à variação média da economia e não à dos seus custos específicos. Essa prática, desnecessário dizer, é altamente daninha a qualquer esforço de combate à inflação.
É certo que alguns itens, como os salários, tiveram correção, mas respondem só por parte do aumento. De todo modo, não eximem as autoridades do dever de explicar minuciosamente as razões do reajuste, bem como de informar à população de todos as suas iniciativas para aumentar a eficiência dos serviços.
Afinal, é essa população, principalmente os mais pobres, que vai arcar com os custos do aumento e que vai ver sua renda, já insuficiente, corroída ainda mais.

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