São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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A conferência gay

A cidade do Rio de Janeiro é, desde ontem até o próximo dia 25, a sede de duas conferências de homossexuais, uma delas de travestis, e a outra, de nível internacional, de gays e de lésbicas.
O fato de homossexuais das mais diversas tendências se reunirem pública e ostensivamente para debater seus problemas sem que haja uma reação de histeria coletiva por parte dos setores mais conservadores da sociedade já é um grande avanço num país como o Brasil.
Os problemas dos homossexuais, como é óbvio, variam muito de país para país. Em algumas sociedades mais desenvolvidas, sobretudo na Europa do norte, os homossexuais já dispõem de leis que regulamentam o casamento entre eles. No Brasil, ainda se trava o debate sobre a conveniência ou não de incluir na Constituição o termo ``orientação sexual" na passagem que proíbe a discriminação. Já em outras nações, particularmente no Oriente Médio, o homossexualismo é uma ofensa grave.
Para além das diferenças culturais das mais diversas sociedades, a questão da discriminação contra os homossexuais toca num problema mais grave que são os fundamentos de uma sociedade democrática.
Goste-se ou não, aprove-se ou não, os homossexuais são cidadãos como quaisquer outros e têm, portanto, os mesmos direitos e deveres dos heterossexuais. Assim como é errado discriminar alguém em função da cor de sua pele, de seu credo religioso ou de suas convicções filosóficas, é errado discriminar alguém em função de suas preferências sexuais manifestadas nos mesmos limites que são hoje impostos aos heterossexuais.
A democracia, em seu sentido mais amplo, é a tentativa de dirimir os inevitáveis conflitos que surgem da vida em sociedade por meio de garantias individuais universais, tolerância e respeito à vida privada dos cidadãos. Nesse sentido, o respeito à orientação sexual das pessoas é antes de tudo o respeito à própria democracia.

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