São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 1995
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Os curandeiros

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Era apenas choradeira -acrescente-se, agora, uma pitada de chantagem. A Fiesp anuncia que vão prosseguir as demissões de trabalhadores, devido aos juros altos e desaquecimento da economia. É um exemplo perfeito de manipulação.
Na velha tática da histeria, transforma-se um problema real em catástrofe. Vende-se a sensação de caos, mas os números mostram que, no acumulado do ano, a geração de empregos na indústria paulista é positiva.
Até agora, o Plano Real foi praticamente indolor -algo que, aliás, não combina com um plano de estabilização. No primeiro trimestre, a economia cresceu estupendos 10%. E, no próximo, estima-se um aumento na produção de mais de 8%.
Em todos os meses as vendas são maiores do que em igual período do ano passado. E mesmo assim querem vender a sensação de que estamos no caos -e para corrigir o ``caos", tudo bem um pouquinho de inflação. Afinal, quem paga mesmo não é a Casa Grande, mas a senzala.
Diante desse tipo de informação, o leitor que não for bobo reconhece que, de fato, há problemas. Mas também pergunta: 1) até que ponto empresas passam dificuldade não apenas pelos juros, mas por apostas erradas na taxa de crescimento da economia e inflação; 2) quantos endividaram-se mais do que deveriam; 3) quantos não se reciclaram para uma rotina com inflação baixa e mais concorrência internacional?
O leitor deve tomar cuidado com uma velha prática nacional: o curandeirismo. Ou seja, ofertas de soluções miraculosas sem esforço ou sacrifício. A sociedade vai ter de olhar de frente para um dilema: se quiser uma moeda estável, terá de agir em várias frentes -o que passa por reformas na Constituição até maior velocidade na privatização.
Vai ter de suportar a terrível idéia de que não se pode, agora, crescer a taxas altas sem produzir pressões nos preços. É duro, claro -mas não tem outro jeito. Pode-se, quem sabe, optar pelo contrário: estimula-se a produção em troca de mais inflação.
Se optar pelo curandeirismo, melhor chamar logo Thomaz Green Morton, que leva a vantagem de não se dizer economista e não ser vinculado a esquemas empresariais -e, acima de tudo, tem ótimo humor.
Se é para fazer bobagem, melhor fazer rindo.

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