São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Tumulto marca a 2ª votação do petróleo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Câmara aprovou ontem, em segundo turno, a emenda que quebra o monopólio estatal do petróleo em meio a um tumulto envolvendo petroleiros e integrantes da UNE (União Nacional dos Estudantes).
A emenda foi aprovada por 360 contra 129, com 1 abstenção. No primeiro turno, a proposta havia recebido 364 votos a favor e 141 contra, com 3 abstenções.
Houve 19 dissidências no PMDB e cinco no PSDB. Entre os partidos que apóiam o governo, o total de dissidências chegou a 32.
A votação terminou às 19h05. Cinco minutos depois, o presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), entregou a emenda para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
A emenda abre a empresas privadas nacionais e a empresas estrangeiras, privadas ou estatais, a exploração, o refino e o transporte de petróleo, atividades hoje monopolizadas pela Petrobrás.
Minutos antes da votação, integrantes da bancada amazônica ameaçaram votar contra a quebra do monopólio, em protesto contra mudanças nos critérios de fixação do preço do gás.
``O preço do produto deu um salto na região amazônica", disse Antônio Feijão (PTB-AP).
Por volta das 16h, cerca de 150 estudantes tentavam entrar para as galerias, mas Luís Eduardo havia ordenado à segurança que só permitisse o acesso de 200 pessoas ao local, que tem 600 assentos.
Orientados pelo presidente da FUP (Federação Única dos Petroleiros), Antônio Carlos Spis, os dirigentes da UNE, que já estavam nas galerias, saíram para tentar forçar a entrada para os demais.
Estudantes da Universidade Federal Rural do Rio e a maior parte dos petroleiros presentes se recusaram a sair para forçar a invasão. Só Spis e outros dez dirigentes da UNE e FUP se dispuseram a enfrentar os policiais.
Mais de 200 soldados, somados ainda à segurança da Câmara, contiveram os manifestantes com cassetetes e sprays de gás lacrimogêneo quando eles derrubaram a grade de proteção colocada entre o gramado e a rampa do Congresso.
O presidente da Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas), Joel Benin, teve o braço atingido por um cassetete. Vários estudantes ficaram com os olhos irritados por causa do gás.
Pouco antes da confusão, do lado de fora, às 16h45, o presidente da Câmara havia ordenado que a segurança esvaziasse as galerias. ``Os manifestantes estão batendo nos vidros, e isso a Mesa não vai permitir", afirmou Luís Eduardo.
A ordem foi recebida com vaias pelos manifestantes, que xingavam os deputados contrários às suas posições. ``Desgraçado, veado", gritaram para Agnaldo Timóteo (PPR-RJ), que criticava o PT.
``São meninos que vivem como ricos e fingem que são comunistas", respondeu Timóteo.
``Boiola, traidor", disseram os manifestantes para Fernando Gabeira (PV-RJ), que votou contra o monopólio. ``Boiola" é um regionalismo nordestino para designar homem homossexual.
Luís Eduardo acabou permitindo a permanência nas galerias de quem ``se comportasse bem".
Convocação
FHC decide hoje se convoca o Congresso durante o recesso parlamentar a partir do dia 1º de julho, para apressar as votações da reforma constitucional.
A Folha apurou que ele tende a não fazer a convocação para não desagradar o Congresso, que prefere o recesso.

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