São Paulo, quarta-feira, 21 de junho de 1995
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Música é 'arma' em rádios da ex-Iugoslávia

ANDRÉ FONTENELLE
ENVIADO ESPECIAL A BELGRADO (SÉRVIA)

A música também é uma arma na guerra da Bósnia-Herzegóvina. Sérvios e muçulmanos se rivalizam em criatividade para compor canções que levantem o moral das tropas na frente de combate.
Segundo o diário "Vip", de Belgrado, mais de cem pequenas estações de rádio foram criadas na Bósnia, nos últimos três anos, apenas para tocar canções de guerra o dia inteiro.
As melodias são no estilo da música folclórica iugoslava, muito popular em toda a região.
As letras fazem referência constante à religião e às fronteiras em disputa, principalmente ao rio Drina, que separa a Bósnia da Sérvia.
Uma canção sérvia afirma: "Ó, sérvio, não se preocupe,/ A fronteira não será no Drina./ Não deixaremos o inimigo/ Conquistá-la de novo, terra sérvia,/ Chegou a hora de os sérvios reescreverem a história".
Os muçulmanos cantam: "Minha Bósnia, pérola dos Bálcãs,/ Enquanto houver Bósnia haverá Islã/ Construa, Mujo (personagem simbólico), torres brancas, mesquitas,/ Do rio Una ao Drina, como antes".
A referência ao "construir como antes" remete à época em que a região dos Bálcãs, onde ficam todas as repúblicas que compunham a Iugoslávia, era dominada pelos muçulmanos.
Uma música muito popular na Bósnia tem como personagem Meho, um soldado adolescente.
"Ele só tem 16 anos e está em guerra./ Ele ama a Bósnia, o aço e os canhões,/ Meho adora a música, Meho não está em paz/ E a música mais querida é o som das armas".
Já a imprensa da Sérvia associa os croatas, seus vizinhos a nordeste, ao nazismo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o ditador da Alemanha, Adolf Hitler, manteve um governo fantoche na Croácia, responsável pela morte de milhares de sérvios em campos de concentração.

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