São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Gasparian critica política econômica
MARTA SALOMON
``Não quero atrapalhar o presidente, mas não posso aceitar uma coisa errada", afirma, referindo-se à dependência que o país teria desenvolvido em relação ao capital especulativo internacional -que chega atraído pelos juros altos. Gasparian critica a política econômica do governo e defende a imediata regulamentação dos juros de 12%, o que só não aconteceu, diz, ``porque os banqueiros mandam no país". Folha - O senhor ainda defende o limite de juros de 12%? Fernando Gasparian - Adiar a regulamentação por mais tempo só vai impedir que o Brasil se liberte da condição de refém dos juros altos. É claro que o governo precisaria adotar medidas para evitar consequências negativas. Folha - O governo argumenta que a limitação dos juros implodiria o Plano Real. Gasparian - O problema é que o Brasil está se financiando com dinheiro volátil, que entra no país justamente por causa dos juros altos. E isso é muito perigoso. O Brasil fica a cada dia mais vulnerável. O presidente até andou falando sobre a necessidade de regular esses fluxos financeiros internacionais, esse capital especulativo. Mas nada foi feito. Folha - O senhor não concorda com o argumento do governo de que o Brasil não suportaria os juros de 12%? Gasparian - A curto prazo, o país perderia uma parte deste capital especulativo, mas não acho que o Brasil vá quebrar por causa disso. O juro alto, a médio e longo prazo, certamente quebrará a economia. Temos que encontrar caminhos para equilibrar a balança de pagamentos sem apelar para a taxa de juros tão alta. Folha - E que caminho o senhor sugere? Gasparian - O governo precisaria mudar o câmbio para aumentar as exportações. E também diminuir as importações. As medidas que foram tomadas ainda são tímidas. Folha - O senhor conversou com o presidente sobre juros? Gasparian - Não quero atrapalhar o presidente, mas não posso apoiar uma coisa errada como a crescente dependência do capital especulativo. O presidente é mais um humanista que um economista. Ele está se baseando nas pessoas a quem entregou a economia. E interfere pouco nisso. Folha - O limite constitucional de 12% foi estabelecido há quase sete anos. Por que nunca entrou em vigor? Gasparian - Porque os banqueiros é que mandam neste país. E, por falta de competição no sistema financeiro, os juros não caem naturalmente. O limite máximo de 12% para a cobrança de juros ao ano vigorou no Brasil entre 1933 até os anos 50, com grandes resultados no crescimento da economia. Na década de 50, esse limite ficou irreal com o surgimento da inflação. Então os governos militares soltaram os juros. Atualmente, a taxa chega a 140% ao ano para o desconto de duplicatas. Texto Anterior: Para Kandir, limite não vai ser aprovado Próximo Texto: A dívida do presidente Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |