São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995 |
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Travesti lança dicionário
MAURICIO STYCER
``Boneca", gíria que designa travesti, é uma das 800 palavras listadas na obra organizada por Jovana Baby, presidente da Astral (Associação de Travestis e Liberados) do Rio de Janeiro. ``Os travestis falam uma língua própria e essa nossa língua é uma forma de defesa contra a violência que sofremos", diz Jovana Baby. O travesti não se preocupa com a possibilidade de o dicionário acabar servindo como arma de seus ``inimigos": ``São palavras muito difíceis. Tenho certeza que não serão gravadas", diz Jovana. Os termos constituem quase um dialeto próprio com alguma influência de línguas africanas. Frases inteiras podem ser montadas nessa língua, explica Jovana Baby. Uma muito dita nas ruas, por exemplo, é: ``Quenda o aracá do ocó: é uó" (Olha a cara daquele homem, como é feio). O vocabulário das ``bonecas" ajuda até em situações de pouco perigo, mas muita fofoca, como a conferência no Rio Palace. Para evitar gafes, explica Jovana Baby, eles falam muito: ``Desaquenda a endaca. Tem adé catando". Quer dizer: ``Pára de falar. Tem gay olhando." Batizado Osias Cardoso, 32, o travesti conta que a preparação do dicionário consumiu dois anos de pesquisa e contou com a ajuda de dois colaboradores. A primeira edição está saindo com uma tiragem de 2.000 exemplares, tem 16 páginas e será vendida por R$ 5. A renda será usada na compra de um computador e de uma linha telefônica para a Astral. Abaixo, alguns dos termos do dicionário ``Diálogo de Bonecas": Ochó de neca - camisinha (literalmente significa ``roupa de pênis") Ocani - também designa pênis Aracá - rosto, cara Endaca - boca Ocó - homem Mona - mulher Mona de equê - travesti (literalmente, ``mulher de mentira") Mona ocó - lésbica Adé - gay Ocó de equê - gay que finge ser heterossexual Texto Anterior: Associação deve ser readmitida na ONU Próximo Texto: Portadores do HIV têm sala especial Índice |
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