São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC muda leilões de dólar para combater especulação

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA REPORTAGEM LOCAL

Nota de Fernando Henrique descarta alterações na banda cambial
O Banco Central criou ontem um tipo de leilão de dólar que permitirá a compra e a venda simultânea da moeda.
A medida foi bem recebida pelo mercado financeiro. Ela aumenta a transparência das intervenções do BC no mercado e tende a inibir grandes oscilações das cotações num mesmo dia, avaliam executivos de bancos.
Segundo o diretor de câmbio do Banco CCF, Carlos Marino Calabresi, o BC criou o chamado ``leilão de spread", que irá conviver com os leilões tradicionais de compra ou venda de dólar.
Nessa nova modalidade, o banco que participar do leilão terá de apresentar sua proposta informando as taxas de compra e de venda, bem como a quantidade de dólares que pretende negociar.
Mas só depois que o BC anunciar o resultado do leilão o banco saberá se vendeu ou comprou dólares. Com esse tipo de leilão, o BC poderá inibir movimentos especulativos com o dólar.
O novo sistema, quando necessário, permitirá desvalorizar o real sem perda excessiva de reservas cambiais (reserva do país em moeda forte), já que os dólares usados para impedir um eventual salto indesejável das cotações não sairiam apenas das reservas do país, mas também dos bancos interessados em vender os dólares.
A medida foi tomada enquanto já crescia no mercado financeiro a expectativa de uma nova valorização oficial do dólar -que seria necessária para reverter os seguidos déficits na balança comercial.
O Palácio do Planalto divulgou uma nota oficial, assinada pelo porta-voz Sérgio Amaral, que nega que o presidente Fernando Henrique Cardoso tenha dito a parlamentares que mexeria no câmbio.
O BC e o Ministério da Fazenda não se pronunciaram ontem sobre a possibilidade de alteração.
O lançamento do novo leilão foi precipitado pela disparada do dólar no mercado de câmbio ontem. ``Que a banda (os limites para as cotações) vai mudar no segundo semestre, até as pedras sabem", disse Luís Fernando Lopes, da MCM Consultores, que não prevê mudanças no câmbio agora.
A idéia do BC é usar o novo tipo de leilão para conter a especulação com o preço do dólar, possivelmente ainda hoje.
``Dealers"
O governo também aumentou o número de ``dealers" nos leilões de câmbio -bancos que atuam como representantes do BC no mercado. Essas instituições eram 20 e passarão a ser 60.
O Banco Safra, descredenciado em março, volta a ser ``dealer".
O diretor superintendente do Banco Bamerindus, Belmiro Valverde Jobim Castor, disse que o credenciamento de 40 novos ``dealers" aumentará a transparência das operações.
Segundo Jobim Castor, isso evitará problemas semelhantes aos que ocorreram em março último -quando houve suspeita de informação privilegiada.
Com o credenciamento de 40 novos bancos, praticamente todos as instituições mais ativas no mercado de câmbio estarão entre os 60 ``dealers".
A mudança nos leilões foi arquitetada pelo diretor da Área Internacional do BC, Gustavo Franco, e vinha sendo preparada desde março, quando o país perdeu US$ 4 bilhões das reservas no mês em função da primeira desvalorização do real desde o lançamento do plano econômico.
Nota
A nota da Presidência afirma que ``o presidente referiu-se à questão da taxa de juros e de câmbio no contexto das modificações que o governo cogitava fazer ao final do ano passado, antes da crise do México".

Texto Anterior: Tarifas públicas devem levar inflação a 3% no mês de julho
Próximo Texto: Novos setores vão ter as exportações financiadas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.