São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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Antunes leva show 'Frankenstein' a Curitiba

MÔNICA RODRIGUES COSTA
EDITORA DA FOLHINHA

Arnaldo Antunes apresenta o show ``Ninguém", hoje e amanhã, em Curitiba, prosseguindo a temporada de lançamento do disco de mesmo nome, lançado em abril pela BMG.
O show apresenta 21 canções que misturam diversos estilos musicais. O cantor dá nova interpretação e arranjos a algumas delas.
Um dos destaques é ``Lugar Comum", de João Donato e Gilberto Gil. A canção ganha frases especiais na guitarra de Edgard Scandurra, integrante da banda de Antunes, que o acompanha desde o trabalho ``Nome", de 1994.
Tudo nesse show é irônico, meio Frankenstein, na combinação dos instrumentos com voz e gestos, e oriundo dos lugares mais díspares. Do rock direto da composição ``Ninguém" ao simbolismo visceral do ``Budismo Moderno", do poeta Augusto dos Anjos.
A dança de Antunes é uma espécie de antiperformance. Seus movimentos são, de propósito, dissonantes e desajeitados. Chamam a atenção para alguma coisa fora do corpo. As palavras de ``Fora de Si" berram pessoas pronominais fora do lugar gramatical.
Antunes provoca, com ironia, efeitos de distanciamento na palavra, na voz (quase se trata de poesia cantada), nas letras, para que se esvaziem os sentidos óbvios. ``O Nome Disso" é uma exposição de idéias que questionam o público e o globo terrestre que o artista carrega para o palco.
O cenário (Nuno Ramos e Gualter Pupo) são formas indefinidas que se enchem (ou esvaziam) de luz à medida que o show acontece. Lembram as ``Configurações" do dadaísta Hans Arp (artista de vanguarda dos anos 20).
Esse segundo disco solo do poeta e músico é carregado de referências. Os instrumentos da percussão de Peter Price remetem às invenções sonoras do músico suíço-baiano Walter Smetak (1913-1984).
Tanque de motocicleta, pedaços de kart e bicicleta, galão de plástico, canos de plástico são a versão sonora da cidade, assim como os instrumentos de Smetak deixam o vento (o som) produzir sentido.
Mas Antunes não abre mão dos recursos da música popular, brasileira e internacional, para criar seus versos. ``Alegria" soa como um samba-lamento que contrasta com o conteúdo da letra (``Eu vou te dar alegria/ eu vou parar de chorar/ eu vou raiar o novo dia/ ...e dançar e dançar e dançar...").
Sua enumeração guarda relação com a melhor tradição das canções, que abusa da repetição como recurso estético e de recepção imediata.
Basta lembrar ``Let It Bleed" (1969), de Mick Jagger e Keith Richards, em que apenas as letras de certas palavras criam os principais efeitos poéticos: ``Well, we all need someone we can lean on/ ...dream on/ ...cream on/ ...bleed on..."
Depois de Curitiba, o show ``Ninguém" segue para as cidades de Camburiú (24 de junho), Florianópolis (25) e Porto Alegre (29). Em julho, o show viaja para Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Recife, João Pessoa e Natal, voltando para São Paulo para apresentação em Campos de Jordão, em 29 de julho.

Show: Ninguém
Artista: Arnaldo Antunes
Banda: Paulo Tatit (baixo e violão), Peter Price (percussão), Edgard Scandurra (guitarra e violão), Pedro Ito (bateria), Zaba Moreau (teclados, sampler e voz)
Quando: hoje e amanhã
Horário: 24h; a casa abre às 22h
Onde: Aeroanta de Curitiba (r. Piquiri, 289, Rebouças, tel. 041/233-5134)
Quanto: R$ 12,00

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