São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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Livro traz diferença entre homens e 'guys'

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPA

Wittgenstein está roxo de raiva e Nietszche, verde de inveja. Dave Barry acaba de tomar conta do ponto mais alto da montanha filosófica.
O professor Barry é meu herói e líder particular. Para aqueles de nós que temos cérebros atrofiados, ele é também o homem mais engraçado da Gringolândia.
Esse mestre acaba de lançar outro livro para nos guiar em nosso caminho através dos mistérios da vida: ``Dave Barry's Complete Guide to Guys" (Guia Completo aos ``Guys" de Dave Barry).
Ele explica as sutilezas que diferenciam homens normais de ``guys" (definição breve de ``guy", ou ``cara": amigo(a) íntimo(a) e bom de qualquer sexo; pessoa especialmente atraente).
Tecnicamente falando, homens e ``guys" são exatamente iguais, em termos fisiológicos. Mas, quando se trata de confrontar as questões fundamentais da vida, eles tomam caminhos separados.
Esse livro tem coisas importantes a nos ensinar, Joãozinho.
À primeira vista, homens e ``guys" parecem pertencer ao mesmo gênero, mas o livro-referência de Dave Barry aponta as diferenças sutis existentes entre eles. Os homens são não-``guys".
``Guys" não costumam conversar sobre seus ``sentimentos interiores mais profundos" porque não costumam ter muitos, exceto aqueles que envolvem futebol.
Quando você, Joãozinho, se depara com um grande rio, como por exemplo o São Francisco, você provavelmente pára e ``contempla sua beleza natural". Um ``guy", por outro lado, vai diretamente ao ponto: ele se pergunta ``se conseguiria mijar até o outro lado do rio".
As mulheres vêm se perguntando há milhares de anos: Qual é o lance dos ``guys", afinal? O que eles estão pensando? A resposta, evidentemente, é -virtualmente nada. Bem no fundo, explica Barry, os ``guys" são tão profundos quanto um prato de sopa.
Moralmente falando, os ``guys" têm muito em comum com o cachorro número dois de Dave Barry, um certo Zippy.
Zippy é um cão tipo ``guy", ao qual já foi dito várias vezes que não deve: 1) escarafunchar o lixo da cozinha e 2) fazer cocô no chão. Zippy sabe que as regras são essas, explica Barry, mas ele nunca chegou a compreender realmente o porquê delas, e às vezes começa a pensar: Tá bom, normalmente eu não deveria escarafunchar no lixo, mas é claro que essa regra não se aplica na presença de 1) quando alguém acaba de jogar fora um prato de frango xadrez de sete semanas atrás, ainda em ótimo estado e 2) quando estou sozinho em casa.
Moralmente falando, explica o erudito autor, a maioria dos ``guys" é exatamente como Zippy -apenas um pouco mais altos e geralmente menos peludos.
Barry vai direto ao ponto ao explicar diferenças entre os três gêneros sexuais humanos: mulheres, homens e ``guys".
Vamos ver como cada grupo reage a um problema como o de uma criança que é expulsa da classe por comportamento anti-social.
Uma reação feminina típica, diz Barry, seria conversar com a criança para tentar determinar a causa de seu comportamento. Já o homem, diz ele, ameaçaria internar a criança numa academia militar. Já a reação do ``guy" seria ensinar a criança a imitar puns com movimentos da axila.
Se você, Joãozinho, estiver em dúvida sobre se é apenas um homem ou se é um ``guy", basta fazer o teste criado por Barry para esse fim. Eis algumas das perguntas:
1) Quando é tudo bem beijar outro homem?
a. Quando você deseja demonstrar afeto puro e simples, sem levar em conta as convenções sociais bitoladas.
b. Quando esse homem é o papa (não nos lábios).
c. Quando ele é seu irmão e você é Al Pacino e essa é a única maneira legal de deixá-lo saber que, por razões de negócio, você terá que mandar matá-lo.
2) Complete a sentença: Um enterro é um bom momento para
a. ...lembrar a pessoa que morreu e consolar seus entes queridos.
b. ...refletir sobre a transitoriedade da vida terrena.
c. ...contar aquela piada sobre o cara que tinha mal de Alzheimer e câncer ao mesmo tempo.
3) Em sua opinião, o bicho de estimação ideal é:
a. Um gato.
b. Um cachorro.
c. Um cachorro que come gatos.
Contagem dos pontos: atribua-se um ponto para cada resposta ``c". Um verdadeiro ``guy" faria três pontos neste teste. Barry diz que um ``guy" bem ``guy" ganharia um bônus especial de cinco pontos, por conhecer a piada do cara com mal de Alzheimer e câncer ao mesmo tempo.
Quando cheguei ao final do livro, percebi que estava me sentindo tranquilizado em relação ao futuro do mundo nas mãos ternas e amorosas dos ``guys".
Afinal, como Dave Barry nos lembra constantemente, os ``guys" ``fazem numerosas contribuições positivas e vitais para a sociedade", mesmo que ele não saiba bem quais elas seriam.
Frank Sinatra, como sabemos há muito tempo, é um ``guy" legítimo. Frank é exatamente o tipo de ``guy" que todos nós gostaríamos de ter como amigo, especialmente quando enfrentamos problemas sérios. É o que diz Shirley MacLaine em seu livro ``My Lucky Stars: A Hollywood Memoir".
``Eu só queria que alguém tentasse te machucar para que eu pudesse matá-lo para você", disse Sinatra, expressando sua amizade eterna pela mística MacLaine.
As coisas mudaram, porém. Sinatra leu o livro. Agora ele está chateado e o ``guy" não fala mais com ela.

Tradução de Clara Allain

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