São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 1995
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Nem governo, nem coveiros

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Num estilo inusitado, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, aproveitou uma manhã fria e ensolarada de Washington, no final de abril, para atacar os catastrofistas. Batizou-os de coveiros do Real. E garantiu o que o presidente Fernando Henrique Cardoso não se cansava de repetir nos Estados Unidos: em breve, a balança comercial estaria equilibrada.
Os primeiros números da balança comercial continuam mostrando desempenho bem abaixo do prometido. A situação não é tão ruim como pregavam os catastrofistas, mas está muito longe do que jurava o governo.
O problema é que cresce o cerco contra o Real. Embalados por uma campanha histérica, usam-se os dados sobre concordatas e falências para evitar uma terrível, mas indispensável, austeridade. A gritaria vai aumentar, afinal o desaquecimento da economia está apenas começando.
Com o aumento da gritaria, cresce o espaço dos vendedores do caos e, principalmente, dos curandeiros -aqueles que juram ser possível estabilizar a moeda sem uma dose de sacrifício.
Por todos os lados, propagam-se os lobbies para proteger a indústria nacional. Primeiro foram os automóveis, agora são tecelagens e, em breve, produtos eletrônicos. Sempre haverá um bom argumento sustentando um mau lobby.
Óbvio que existirão reflexos no Congresso, que tornarão ainda mais delicado o processo de desindexação. A questão essencial, hoje, é simples: até que ponto a sociedade está madura para saber que o custo da estabilização é aceitar sacrifícios, e até que ponto o governo está imune à gritaria de segmentos que, como se sabe, financiaram candidaturas de deputados, senadores, governadores, presidente e por aí vai.
É agora que vamos ver até onde o presidente Fernando Henrique Cardoso acredita mesmo que a prioridade, agora, é baixar a inflação -ou se ele vai ajudar os tais coveiros do Real.

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