São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
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Bares podem ser fechados por racismo

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Estabelecimentos comerciais da cidade de São Paulo já podem ser fechados por prática de racismo. Projeto de lei neste sentido foi aprovado pela Câmara Municipal.
O projeto alterou a lei 10.205/86, que regula a expedição de licença de funcionamento para locais como clubes, bares, restaurantes e cinemas.
No seu parágrafo único, a lei determina que a expedição da licença é condicionada ao atendimento à ``proibição à prática do racismo ou qualquer discriminação atentatória aos direitos e garantias fundamentais".
O projeto aprovado ainda inseriu na lei que a prefeitura deve fiscalizar estabelecimentos quando houver denúncia de racismo.
Caso o racismo seja comprovado, o primeiro caso será punido com uma multa de mil Unidades Fiscais do Município (o equivalente a R$ 34 mil).
Em caso de reincidência ou não pagamento da multa, a lei prevê que a licença de funcionamento seja cassada até ``que seja revisto o ato discriminatório ou sanada a dívida junto à municipalidade".
O prefeito Paulo Maluf vetou o projeto, que é de autoria do vereador Odilon Guedes (PT). O Executivo alegou que legislar sobre o crime de racismo é uma atribuição exclusiva do governo federal.
Além disso, a prefeitura afirmou que a multa era muito alta.
O veto do prefeito foi derrubado pelos vereadores.
Segundo Guedes, é competência ``comum" da União, Estados e Municípios zelar pela Constituição, que considera o racismo um crime inafiançável.
Para o vereador, a principal inovação da lei é que ela pune o dono do local onde o racismo foi praticado. ``A legislação federal só pune a pessoa que praticou o racismo. Até hoje, se uma boate barrar um negro, só o porteiro poderia ser acusado", diz.
Quanto à multa, que custa hoje o equivalente a três carros populares, Guedes afirma que ela servirá para coibir o racismo.
Segundo o vereador, o projeto foi inspirado no caso do jornalista Raimundo Gadelha que, no final de 93, acusou o clube Paineiras do Morumby (Morumbi, zona sul), de não ter aceito sua entrada como sócio por ele ser nordestino.
O clube nega a discriminação, mas não explicou por que recusou Gadelha como sócio. O caso tramita hoje na Justiça.

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