São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
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Artistas brasileiros "adotam" a moda

KATIA CANTON

KATIA CANTON; EVA JOORY
ESPECIAL PARA A FOLHA

``O artista contemporâneo tem que estar ligado com o que está acontecendo no mundo. E não há nada mais em moda do que o próprio corpo", profetiza o artista cearense Luiz Hermano.
Hermano assina a série ``Esculturas para Vestir", exposta em setembro último no Museu de Arte Moderna de São Paulo e registrada pelo fotógrafo Bob Wolfenson, top no mundo da moda.
``Comecei a criar umas formas dobráveis, com materiais diversos, tipo fios de cobre, cipó, couro, molas, marfim", explica Hermano. ``Meus amigos começaram a colocar no corpo e aí percebi que as formas tinham sido feitas para mexer, para vestir."
Hermano confessa que quando começou a cruzar arte com moda foi apedrejado pelos puristas. ``A moda no Brasil ainda é careta. Em Nova York as pessoas se produzem com originalidade. Aqui, seguem normas. Mas a arte é ainda mais medrosa".
No mundo bidimensional da pintura, a moda também se manifesta. Depois de telas em que se somavam imagens como estrelas de David, árvores, barcos, espinhas de peixe, Pinky Wainer agora só quer saber de uma imagem: um vestido.
``A repetição desse tema começou em 86, quando eu pintava aquarelas. Pintava sempre um mesmo vestido meu, preto com bolas vermelhas. Um amigo dizia que ele era `vivo', que dava para sentir o perfume da mulher que o usava".
Em 93, da aquarela, a artista partiu para o acrílico sobre tela. E foi do vestido preto de bolas vermelhas para vestidinhos leves, coloridos.
Neste ano notou outra transformação: ``Meus vestidos foram ficando cada vez mais claros. Cobri as bolas vermelhas de branco, depois o fundo preto como o branco. Daí os vestidos ficaram todos brancos. Percebi que não precisava mais de cor, que estava passando por uma depuração. Os vestidos não eram apenas vestidos. Eram almas femininas, que estavam clareando".
Mas Pinky Wainer não é dada ao glamour. ``O vestido que pinto é fashion, mas eu mesma sou sóbria, seca."
Entre os designers, aparecem sinais claros de uma atração pelo mundo fashion. A pista está nas novas criações, que sugerem uma parceria com objetos da vaidade cotidiana. Seja no plástico-bolha da cadeira dos irmãos Fernando e Humberto Campana (encontrado também na capa da marca Dolce & Gabbana) ou no trabalho de Luciana Martins e Gerson de Oliveira -luminárias de bolinhas de algodão, como as de tirar maquiagem.
A artista/designer Lina Kim, por exemplo, é exímia arteira do corte e costura. E do bordado. Sua obra, ``Sem Título", exibida na exposição ``Entre Objetos" na galeria paulistana Nara Roesler, é um emblema da tendência.
Lina fez uma escultura-tapeçaria confeccionada com um saco de estopa costurado com pérolas. Pela sua formação eclética, Lina Kim profetiza a artista-modista do futuro -estudou artes plásticas em SP e moda em NY.
O artista plástico Caetano de Almeida, 31, fez o quadro ``Composição Romântica", em que mistura acrílico com tecido de bordado. ``O casaco da ilustração é o elo com a moda", explica. ``Usei o tecido para reproduzir a textura da pele, uma coisa fria e distante". Já Maurício Ianês, 21, usa materiais como látex e poliuretano expandido (que vira espuma) para sua parceria com o estilista Alexandre Herchcovitch. ``Tanto na moda quanto na arte existe uma idéia que tem que ser viabilizada. Alguns estilistas têm uma preocupação mais conceitual, sem compromisso em fazer vestidos usáveis."

Colaborou EVA JOORY, da Reportagem Local

Preços: Luis Hermano - ``Esculturas para Vestir" (94): R$ 2 mil a R$ 3 mil. Pinky Wainer - ``Vestidos" (94): R$ 1.800. Lina Kim (95): R$ 3 mil. Caetano de Almeida (95): 4 mil.

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