São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
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Assim não

Que é tarefa do ministro da Saúde empenhar-se em favor de melhorias para a sua área não há como discordar. A situação degradante a que são submetidos os cidadãos que recorrem à rede pública de saúde já perdura há tempo demais.
Mas defender essa melhoria por meio de confrontações e animosidades com outros membros do Executivo, incluindo o próprio presidente, certamente não é o caminho adequado. Assim, causaram razoável espanto as recentes declarações do ministro Adib Jatene.
Referindo-se ao debate sobre o destino das verbas de um eventual IPMF reeditado, o titular da Saúde afirmou que ``o Congresso não deve se vincular aos interesses da equipe econômica do governo". Disse ainda que informação sobre a área da saúde apresentada por Fernando Henrique Cardoso era ``falsa" e que ele próprio seria ``infritável" -num rasgo de auto-afirmação que põe o presidente em situação no mínimo desconfortável.
O cerne da posição do ministro é sem dúvida louvável. Sem prejuízo do imperativo de utilizar os recursos disponíveis hoje da forma mais criteriosa e eficiente possível -o que ainda está por ser provado-, o quadro da saúde é calamitoso e clama por maior atenção. A idéia de ressuscitar o famigerado IPMF, várias vezes condenado neste espaço, de fato só merece ser considerada seriamente se se referir a uma área de carências tão desesperadoras.
Nada disso porém serve para justificar a estratégia do ministro. Divergências dentro do Executivo são naturais, mas não devem ser traduzidas em críticas públicas. No limite, quanto mais desunido o governo, mais frágil e menos eficiente ele se torna, o oposto do que o ministro em tese deve almejar.
Inconveniente a qualquer momento, praticamente desafiar o presidente e incitar o Congresso a se opor à área econômica torna-se, num momento crucial da estabilização, ainda mais inoportuno e inconsequente. Tamanha foi a estranheza face a tais manifestações que surgiram mesmo especulações sobre uma eventual saída do ministro.
A população decerto espera de Jatene, bem como de qualquer outro ministro, que realmente se esforce para conseguir avanços na sua área de atuação. Mas sem provocar tantos embaraços.

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