São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995 |
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Médico e mendigo
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Fosse no governo Itamar Franco, a briga do ministro Adib Jatene por mais verbas para a Saúde seria tratada com toda a ironia cáustica disponível.Mas, como é no governo Fernando Henrique Cardoso, parece que quase todo mundo encara o assunto como fatos da vida, essas coisas inevitáveis que ninguém pode mudar mesmo. Fato 1 - As verbas para a Saúde são de fato anêmicas, constatação com a qual 11 de cada 10 brasileiros estão de acordo. Fato 2 - Não há de onde tirar, no Orçamento, recursos para canalizar para a Saúde. Até o ministro Jatene conforma-se com esse fato, tanto que idealizou uma nova versão do IPMF, o imposto do cheque, cuja arrecadação destinar-se-ia exclusivamente à Saúde. Mas, pela ótica do próprio governo, os dois fatos não deveriam ser considerados inevitáveis como o nascer do Sol todos os dias. Primeiro, porque, como aponta o ministro, Saúde era um dos dedos da mão erguida que compunha o elenco de prioridades do candidato FHC. Segundo, porque a alegação da área econômica de que um IPMF para a Saúde atrapalharia a futura reforma tributária é também incoerente com a pregação de campanha. O candidato Fernando Henrique Cardoso cansou-se de dizer que a reforma tributária era a prioridade um entre as reformas constitucionais que encaminharia ao Congresso uma vez eleito. Depois de eleito, no entanto, o presidente descobriu o que o candidato deveria saber: reforma tributária é difícil de se fazer (foi pelo menos o que o presidente disse em entrevista coletiva concedida em Londres, no mês passado). Que é difícil, ninguém nega. Mas foi para resolver as coisas difíceis que, supõe-se, o eleitorado escolheu o único suposto Sartre disponível no mercado eleitoral. Se fosse fácil, qualquer um faria, certo? Em um único assunto, portanto, arquivam-se de uma só vez duas prioridades do candidato. Que, depois, reclama quando dizem que ele disse ``esqueçam o que escrevi". Texto Anterior: Pé no freio Próximo Texto: Acorda, presidente Índice |
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