São Paulo, sábado, 24 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Acorda, presidente

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Intensificam-se as pressões e os lobbies contra o Plano Real, ganhando corpo dentro e fora do Congresso -as ofensivas vão desde o tabelamento de juros, passando pela chantagem da bancada ruralista ou amazônica, até a nova onda de pedidos de proteção da indústria brasileira. Mesmo assim, o governo passa a sensação de ``Casa da Mãe Joana". É inacreditável.
O natural e previsível seria que os ministros, diante da pressão, acertassem o passo, assumissem uma única linguagem. Até porque está em jogo a estabilidade do real -e, portanto, a própria sobrevivência do governo. Ainda mais agora, com nova desvalorização do real.
Dorothéa Werneck defende publicamente medidas de proteção à indústria, além dos automóveis -quer ajudar os setores têxtil e de calçados. Pedro Malan critica. Publicamente, claro.
Os ministérios do Planejamento e Fazenda trocam duras acusações pelos bastidores -inclusive sobre integridade moral. Mas se unem contra o ministro Adib Jatene, devido à proposta de criar um imposto apenas para a saúde.
O presidente Fernando Henrique Cardoso lava as mãos: estimula que Jatene vá a luta no Congresso. Se ganhar, tudo bem. Ou o presidente não gosta da proposta e confia que o ministro vá perder no Congresso, ou ele gosta e despreza as considerações da Fazenda e do Planejamento. Mas não quer enfrentar Malan e Serra.
É algo parecido a um técnico de futebol aceitar as táticas impostas por cada jogador, cada um atuando no seu estilo. E diz mais ou menos o seguinte: vá lá e vire-se, se fizer o gol, tudo bem.
Pode até demorar, mas o presidente vai acabar se convencendo de que terá de encarar uma reforma ministerial. E começa com a unificação da área econômica em apenas um comando.
PS - Ciro Gomes tem a obrigação de dar nome aos bois -e, se ele provar, o presidente tem obrigação de abrir inquéritos. Ele garante que uma montadora recebeu informação privilegiada antes do aumento das alíquotas de importação de automóveis. E teria feito uma gigantesca importação pelo Porto de Vitória. Aliás, FHC já deveria ter telefonado ao ex-ministro pedindo os nomes, antes que corra o risco de ser acusado de passividade.

Texto Anterior: Médico e mendigo
Próximo Texto: Pregos e pregão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.