São Paulo, segunda-feira, 26 de junho de 1995
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Cinema e jornalismo têm área de atrito

DA REDAÇÃO

Nem tudo é róseo nas relações entre cinema e jornalismo. Existe também uma ampla área de atrito. E aí o segundo entra como vilão da história, em vários filmes da mostra: do próprio ``Terra em Transe" a ``Cidadão Kane" (1941), de Orson Welles, passando por ``A Grande Ilusão" (1949), de Robert Rossen.
Nesses filmes, como em ``Um Rosto na Multidão" (1957), de Elia Kazan, discutem-se papel, poder e equívocos da mídia.
Se nem mesmo Chaplin escapou à tentação de ligar seu Carlitos ao trabalho jornalístico (no curta ``Carlitos Repórter", de 1914), a mais clássica representação dessa profissão está em ``Última Hora" (1931), de Mervin LeRoy.
A história, baseada em uma peça de Ben Hecht e Charles MacArthur, teve mais duas versões célebres (``Jejum de Amor", nos anos 30, e ``A Primeira Página", nos 70). Trata do conflito entre um chefe de redação e seu melhor repórter. Este último pretende largar a profissão às vésperas da execução de um condenado à morte.
Ao longo desse conflito, a trama desenvolve não só o que é a atividade jornalística, como as diversas maneiras de praticá-la.
Se nesses filmes o cinema mostra-se crítico em relação ao jornalismo, em outro momento reencontra-se a mesma identidade dos tempos de Lumière. Em ``Acossado" (1959), de Jean-Luc Godard, ou em ``O Bandido da Luz Vermelha" (1968), o cinema apropria-se de certos procedimentos da imprensa (o imediatismo, a superficialidade) e os retrabalha na forma e no espaço fílmico.
Resta, por fim, o exemplo mais recente de ação jornalística via cinema: o ``JFK" (1991) de Oliver Stone tenta reconstituir a morte do presidente John Kennedy, montando seus elementos como em uma reportagem jornalística.
O trabalho de Stone particulariza-se, porém, pelo tipo de ênfase: é a partir da possibilidade de ver, rever, ampliar filmes, deter-se sobre certos momentos de filme que a verdade sobre o assassinato emergiria. Stone trabalha em um momento em que a imagem adquire, tecnologicamente, condições de libertar-se da palavra. Em que a ``verdade" da imagem passa a se constituir autonomamente.

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