São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Fraude impune

JANIO DE FREITAS

O Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão levou oito meses e meio, das eleições até agora, para fazer a recontagem parcial dos votos. Só em 5% das urnas não foram constatadas fraudes. Como consequência da recontagem, um deputado deixa de sê-lo e um, antes dado como derrotado nas urnas, torna-se deputado.
Daí decorrem três questões importantes. A primeira: por que o TRE levou oito meses e meio para proceder à recontagem? Os indícios de fraude ficaram expostos ainda no decorrer da primeira apuração. Eram suficientes, mesmo que não houvesse requerimentos de recontagem, para que a Justiça Eleitoral assumisse a iniciativa de uma verificação geral. Em vez disso, os juízes resistiram e protelaram o quanto puderam. Mas não evitaram a desmoralização do TRE: que eleição foi essa, em que só 5% das urnas tinham, de fato, a distribuição de votos igual à que constou nos mapas de apuração? O TRE maranhense não presidiu eleição, presidiu fraude.
Outra questão: são legítimos os resultados de votações na Câmara com votos de um não-eleito? Ao argumento de que ele foi diplomado contrapõe-se a evidência de que um parlamentar é feito pelas urnas e não pela diplomação. E a própria diplomação foi ilegítima e ilegal.
Questão final: o TRE maranhense validou as falsificações na apuração de 95% das urnas, negou diplomação a um eleito e deu uma cadeira de deputado a um não-eleito. E fica tudo por isso mesmo? Onde está e o que faz o tal ``controle interno da Justiça", que os magistrados dos altos tribunais alegam existir para refutar a necessidade do controle externo?
Golpe baixo
O Plano Real foi lançado para debelar a inflação e, condicionada a sua cronologia ao processo eleitoral, para dar condições a uma candidatura à Presidência. A inflação foi derrubada e o candidato-real foi eleito. São êxitos mais do que suficientes para as comemorações de políticos e jornalistas, sem que precisem recorrer a adulterações do tipo ``a cesta básica está 3,5% mais barata do que na adoção do real".
Eles sabem, e nós também, que nas vésperas da adoção do real a cesta básica subiu do equivalente a R$ 80 para R$ 105, a pretexto de ``aumento preventivo". E os 3,5% abaixo dos R$ 105 põem a cesta com seu valor de R$ 101, ou 25% acima do preço anterior à adoção do real.
O plano, na verdade, fez a cesta subir. Só a decência dos propagandistas continuou descendo.

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