São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Ministério recebe queixas diárias contra TVs

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Justiça recebe queixas diárias sobre a programação dos canais de TV.
Segundo Margrit Dutra Schmidt, diretora do Departamento de Classificação Indicativa, a maioria da correspondência afirma que a programação televisiva prejudica o desenvolvimento infantil.
``Alguns pedem a volta da censura. Isso revela desconhecimento da legislação", diz Margrit.
Ela recebe abaixo-assinados de câmaras de vereadores do interior do país e de seitas e grupos religiosas, como a Igreja Apostólica Pentecostal, de Itabirito (MG), ou O Amanhã de Nossos Filhos.
Mas as queixas não são exclusividade de organizações.
O médico aposentado Hélio Faillace, 74, procurou o Ministério da Justiça para se queixar do excesso de cenas de sexo.
``Fico estarrecido ao ver na TV cenas de ruborizar o mais lúbrico espectador", diz, ressalvando que ``velho sempre exagera".
``Perdemos o equilíbrio moral e mental gradativamente. Muitos programas deveriam ser cerceados, senão teremos uma geração de drogados, prostitutas e gays", afirma.
Está longe de ser um caso isolado. Como atesta Antônio Nunes, 45, vereador de Ourinhos (371 km a oeste de São Paulo), que procurou o ministério para se queixar.
``Hoje em dia, a TV estimula um sujeito alienado a não reconhecer os valores mais importantes da vida, como família, estudo, esportes e religião", afirma.
Para Nunes, falta-lhe coragem para assistir a novela das 18h junto aos filhos.
Ele reclama de programas com cenas de sexo e nudez, como o ``Sexta Sexy", transmitido pela TV Bandeirantes na sexta à noite.
``São histórias sem começo nem fim, que apelam para cenas de sexo e mulheres peladas. A TV não precisa entrar na sua casa e mostrar isso a toda hora", afirma.
Nunes também critica os noticiários que mostram cenas violentas, como chacinas. Para casos assim, ele tem uma solução. ``Sou favorável à censura nessas coisas", diz.

Malhação
A censura é defendida, mesmo que parcialmente, até por quem sofreu com ela. É o caso de Charles Peixoto, 47, roteirista da novela ``Malhação".
A Rede Globo foi multada por ter mostrado na novela, às 17h, cenas de sexo com a participação de um menor como figurante.
``Violência me incomoda barbaramente. Esses filmes que pregam a justiça pelas próprias mãos são perniciosos, alimentam um tipo de doença. Não deveriam passar na TV. É bem pior do que aparecer uma adolescente de calcinha e sutiã", diz.
Para ele, a TV a cabo é o veículo ideal para uma maior liberdade, já que o espectador, ao pagar a assinatura de um canal, sabe a programação a que terá direito.
Peixoto reconhece, entretanto, que houve excessos na polêmica cena de ``Malhação".
``A cena estava prevista no roteiro, mas não apareceria nenhuma parte do corpo. Houve um peso de mão da direção. Nosso programa não se presta a isso", avalia.

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