São Paulo, quarta-feira, 28 de junho de 1995
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Computador traz novas opções para a arte

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Em seu disco mais recente, ``Wildflowers", Tom Petty não usou uma vez sequer o sintetizador. E se orgulha disso.
Feito ele, vários artistas americanos já aderiram à trincheira antidigital, alegando que música produzida pelos chips de computador perde textura e, portanto, fica mais pobre.
Petty não chegou ao radicalismo de Neil Young, que diz que o som de CD é ``um insulto ao cérebro, ao coração e aos sentimentos". Mas os dois estão do mesmo lado, desconfiados da alta tecnologia.
Curiosamente, do outro lado estão artistas aos quais nunca faltou espírito crítico: Peter Gabriel e Bob Dylan, por exemplo.
Dylan lançou um dos CD-ROM mais badalados, o ``Highway 61" interativo, que inclui o som de dez de seus clássicos e mais quatro videoclipes.
Gabriel acha que o futuro da música está na interatividade e trabalha num CD-ROM que dará ao usuário a possibilidade de brincar com imagens e sons criados por ele e outros artistas. Como se estivesse transferindo o poder de criação para o consumidor.
A revolução da informática anda tão acelerada que o debate sobre ela no meio artístico acaba atropelado pelas inovações.
Depois de passear por uma exposição de arte digital, uma crítica do ``Los Angeles Times" escreveu recentemente: ``Não existe forma eletrônica de compensar a falta de criatividade e de sensibilidade de um artista".
Estaria ela aparelhada para julgar o que é criatividade numa colagem produzida por computador? Provavelmente não.
Em Nova York e Los Angeles, há galerias exclusivamente dedicadas aos artistas do computador.
As possibilidades são tentadoras. Não deve demorar muito e vai ter artista estabelecendo seu próprio endereço na Internet.
Por uma taxa qualquer -50 centavos de dólar, por exemplo-, o usuário da rede poderia ``entrar" no estúdio do artista, ver os quadros e, quem sabe, até ``descarregar" para seu arquivo alguma imagem que o agradasse.
Quem frequenta o clube noturno de Nova York Kitchen já está acostumado a ver shows virtuais.
No de maior sucesso até agora, a banda inglesa ``Som do Futuro" tocou num estúdio de Londres e teve o som de seus sintetizadores e as imagens de efeitos gráficos transmitidos via computador para Nova York.
``Blue Man", uma performance que começou na rua e acabou num teatro de Nova York, incorpora vários elementos do ciberspaço e brinca com os truques dos efeitos especiais.
Jaron Lanier tem lotado teatros com suas performances, que incorporam uma viagem pelo mundo virtual e instrumentos eletrônicos como o cibersax.
No Canadá, o coreógrafo Merce Cunningham usa um computador para testar movimentos que gostaria de ver reproduzidos por seus bailarinos.
Na literatura, o hipertexto abre a possibilidade de livros em CD nos quais você poderia escolher o fim da história, em uma espécie de ``Você Decide" individual.
Ninguém sabe se será para melhor ou para pior.
Com certeza, a revolução da informática já está criando um mundo das artes radicalmente diferente de tudo o que já se viu.

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