São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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Cavallo diz que Brasil vai retirar cota para Argentina

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BUENOS AIRES

O governo argentino afirma: o Brasil não vai mais estabelecer cotas para a importação de automóveis da Argentina.
A garantia foi dada pelo próprio ministro da Economia, Domingo Cavallo, que acaba de regressar de Denver (EUA), onde aproveitou reunião dos países americanos para negociar com seus colegas brasileiros.
``Negociamos com o Brasil que não haverá cotas para a exportação dentro da zona", jura Cavallo. Refere-se ao Mercosul, composto também por Paraguai e Uruguai.
Mas, na prática, é uma referência à Argentina, único dos demais países do Mercosul em que há montadoras instaladas e exportando para o Brasil.
Um assessor de Cavalo, Antonio Asseff, subsecretário da Indústria, foi ainda mais preciso: ``Este ano, a indústria automotiva argentina exportará para o Brasil entre 65 mil e 80 mil unidades, como estava previsto."
A decisão de impor cotas às importações de automóveis foi tomada no início do mês passado, em medida provisória que definiu novas regras para o setor automobilístico no Brasil.
Provocou uma tormenta diplomática com a Argentina, a ponto de o presidente Carlos Menem ter ameaçado cancelar sua presença na reunião de cúpula do Mercosul, programada para São Paulo pelo Fórum Econômico Mundial, instituição com sede na Suíça.
Menem acabou comparecendo e as autoridades argentinas e brasileiras aproveitaram a cúpula para negociar uma trégua de 30 dias, que vence dia 18, durante os quais se tentaria chegar a um acordo.
A Folha tentou obter de autoridades brasileiras uma confirmação para a informação veiculada pelos argentinos.
A única resposta disponível é a de que as negociações não foram concluídas ainda, tanto que haverá uma nova rodada de conversas na semana que vem, em Brasília.
Mas a tendência, pelo que a Folha apurou, é mesmo no sentido de não introduzir cotas para as importações de autos provenientes da Argentina. Criaria um problema diplomático maior do que os números de importações justificam.
O Brasil importou, nos cinco primeiros meses de 1995, cerca de US$ 1,830 bilhão em veículos. Desse total, apenas US$ 63,3 milhões vieram da Argentina.
Ou seja, apenas 3,4% das importações brasileiras de automóveis são procedentes da Argentina.
Para a Argentina, o mercado brasileiro é muito importante, mais ainda em um momento de sérias dificuldades econômicas.
Em 1994, o Brasil recebeu 33,8 mil carros argentinos. Se se comprovar a previsão do subsecretário da Indústria, o crescimento será próximo ou superior a 100%.
Desafoga uma indústria que enfrenta forte desaquecimento em consequência dos estilhaços espalhados pela crise mexicana de dezembro passado.
Os US$ 63,3 milhões vendidos ao Brasil representam cerca de 20% do saldo comercial total que a Argentina obteve nas trocas com o Brasil no primeiro trimestre.
Se de fato estiver não houver cotas para a Argentina, desanuvia-se o ambiente para o presidente Fernando Henrique Cardoso, que chega sexta-feira a Buenos Aires, para as festas de posse de Menem em seu segundo mandato.

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sobre a Argentina na pág. 2-2

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