São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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Turismo é vírus pior do que ébola ou sabiá

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Pensou que tinha se livrado de mim para sempre, hein, seu leitor ignaro? Nananinanão! Ói nóis aqui travêis para azucrinar suas quartas e sextas-feiras!
Bem que o pessoal que me levou à festa junina de Caruaru e me serviu latinhas e mais latinhas de pinga Pitu tentou dar cabo de mim. Não é piada, não. Lá em Pernambuco, juro, pinga Pitu é vendida em latinhas iguais às de Coca-Cola -e consumida com a mesma naturalidade.
Mas sobrevivi. Apesar da triste descoberta que fiz, resisti bravamente a esse meu período de descanso em Porto de Galinhas (de onde certas pessoas nunca deveriam ter saído e outras vivem sem nunca ter visitado).
Com imensa dor, constatei que existe hoje no mundo uma doença mais letal do que o ébola, mais ameaçadora do que o sabiá, mais contagiante do que a própria hepatite B. Trata-se do turismo de massa.
Só porque pagou uma passagem em algum neonavio negreiro aéreo, esse abjeto personagem se encontra no direito de sair pelas mais belas paragens do mundo vestido com o máximo do conforto. O que implica estar paramentado como algum açougueiro de filme neo-realista italiano.
Em Porto de Galinhas, paraíso terrestre que, não tenha dúvida, está com os dias contados caso não venha a ser administrado com a mesma mão firme de Fernando de Noronha. O vírus turista faz o diabo.
Vi um estrangeiro de barrigão de chope, xereta a tiracolo e chapelão de palha sentado sobre uma jangada feito uma Chica da Silva de Baden-Baden. Com uma corda, um local puxava a jangada a cerca de um metro e meio da areia.
É esse o tipo de aberração que se tem de suportar para trazer o turismo ao Nordeste? Vale a pena se rebaixar a tal ponto para que, na volta ao lar, essas pragas se vangloriem de emocionantes expedições de jangada?

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