São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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Vendas caem e lojistas já 'passam pontos'

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Cresce o número de lojistas que estão passando o ponto no comércio de rua na cidade São Paulo.
O desaquecimento das vendas a partir de maio está acabando com o fôlego dos comerciantes para carregar estoques elevados e ainda bancar as despesas de mais de um ponto-de-venda.
No corredor atacadista de tecidos da rua 25 de Março, por exemplo, 5% das 300 lojas da região estão interessadas em passar o ponto. Em épocas normais, a rotatividade das lojas entre os comerciantes é de 1%.
``Esse número é assustador", diz Rezkalla Tuma, presidente da Univinco, associação que reúne os lojistas da rua 25 de Março.
O reflexo da corrida para passar adiante o negócio já bateu nos preços. Em janeiro, um ponto comercial de 200 metros quadrados na região custava R$ 250 mil. Em julho, o comerciante paga pelas instalações da mesma loja entre R$ 100 mil e R$ 150 mil.
Na rua Santa Ifigênia, onde se concentram as revendas de material eletrônico, cerca de 15% dos pontos-de-venda trocaram de mãos nos últimos meses, e o preço do ponto despencou.
A informação é de Hamilton Cassiolato, presidente do Clube dos Lojistas da rua Santa Ifigênia, que reúne mais de 300 empresas.
Segundo ele, as lojas só não ficam de portas fechadas por muito tempo porque o ponto é muito cobiçado na região.
``Aqui sai uma empresa e entra outra imediatamente no lugar", afirma Cassiolato.
Até mesmo no comércio da rua Oscar Freire, nos Jardins, a rotatividade dos pontos-de-venda entre os proprietários das 70 lojas da região aumentou nos últimos meses.
``Hoje, cerca de 2,5% dos lojistas estão querendo passar o ponto. A nossa média histórica é de 2%", diz Nelson Mintz, presidente da Associação dos Lojistas da rua Oscar Freire. Ele conta que existem atualmente duas lojas fechadas na rua.
No corredor da Consolação, onde se concentram as revendas de lustres, essa tendência se confirma entre os comerciantes.
``Quem tinha quatro lojas na mesma rua está fechando uma", diz Sérgio Luiz Libanori, sócio da Libanori Lustres, há 35 anos na Consolação.
Como 60% do mercado hoje está parado, diz ele, os comerciantes estão optando por concentrar as despesas. Por isso estão reduzindo o número de pontos-de-venda.
Segundo Libanori, o processo está se acelerando, e o preço do ponto na região caiu 30%.
Salomão Gawendo, vice-presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), diz que a tendência de passar o ponto é mais forte nos pequenos estabelecimentos.
``Normalmente o número de pequenos lojistas que estão abandonando o negócio não é captado pelas estatísticas", diz Gawendo.
Segundo ele, o pequeno não tem condições práticas de pedir concordata. Isto é, pagar um advogado sai caro e a empresa, na maioria das vezes, nem tem balancete em dia. Resultado: passa o ponto e abandona o negócio.

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