São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 1995
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Inteligência e vaidade

CLÓVIS ROSSI

BUENOS AIRES - O Ministério da Saúde deveria mandar imprimir um cartaz que avisasse que o exercício continuado da política faz mal à sociologia.
É a única conclusão possível a tirar das queixas do presidente-sociólogo Fernando Henrique Cardoso, para quem o PFL teria o monopólio da inteligência. Gosto não se discute. Fatos, sim. Vamos a eles.
Fato 1 - Os caciques do PFL estão no poder há pelo menos 31 anos, desde o movimento militar de 1964. Não eram, então, do PFL, que só foi criado depois, mas apoiavam o governo e dele participavam.
Fato 2 - A que conduziram os sucessivos governos desses anos todos? À maior crise da história republicana. Não, não sou eu que estou dizendo. É FHC. No panfleto ``O Real e o Sonho", embrião do que seria o seu projeto de governo para a campanha de 94.
Muito bem. A partir desses fatos, qualquer sociólogo, mesmo que formado em escolinha de fim-de-semana, tiraria uma de três conclusões:
Conclusão 1 - O PFL é inteligente, sim, tanto que consegue ficar no governo seja qual for o governo (vá lá que isso seja tomado como sinal de inteligência). Mas é também perverso, porque as políticas que patrocina no governo geraram a formidável crise apontada por seu mais novo fã.
Conclusão 2 - O PFL não é inteligente, mas apenas oportunista. Porque fica no governo, seja qual for o governo, mesmo que tal governo aplique políticas de que o PFL discorda porque levam à crise antes exposta.
Conclusão 3 - O PFL não é inteligente nem perverso nem oportunista. É apenas incompetente, porque as políticas adotadas nos sucessivos governos que apoiou foram o fracasso apontado pelo então candidato-sociólogo, hoje presidente.
Como o presidente é muito inteligente, será sempre capaz de inventar uma quarta conclusão. Por exemplo: o PFL não pode errar sempre e agora, finalmente, aderiu ao governo certo. Por isso é que é inteligente.
Afinal, FHC já admitiu, antes, sua dúvida sobre se era mais inteligente do que vaidoso ou vice-versa.

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