São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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O que é a droga Êxtase

JOSÉ ELIAS MURAD

Há alguns anos, pesquisadores da área de bioquímica cerebral levantaram a hipótese da existência de uma molécula encontrada no cérebro que seria responsável pelas sensações amorosas. Segundo ela, uma substância de estrutura química relativamente simples -a feniletilamina- seria produzida em maior concentração no cérebro, quando nos apaixonamos.
Ainda com base nessa hipótese, os químicos começaram a pesquisar a possibilidade de obter outra substância sintética que pudesse corresponder à "molécula do amor, a feniletilamina. Há algum tempo atrás, acreditou-se que essa droga fora descoberta. Nas ruas, foi denominada de Êxtase, enquanto nos laboratórios de química recebeu a sigla MDMA, ou seja, 3, 4 metilendioximetanfetamina. Quimicamente, ela se aproxima da metanfetamina (Pervitin), muito conhecida e usada até meados da década de 70, que provocou problemas de abuso e dependência, tendo sido retirada do mercado em vários países, inclusive no Brasil. Os defensores de seu uso como "droga sintética do amor" afirmam que a MDMA produz uma excitação agradável de duas a quatro horas, que acaba com a angústia, rompe os bloqueios humanos, aumenta a capacidade de comunicação, amplia a visão e deixa a pessoa mais receptiva emocionalmente. O Êxtase parece associar os efeitos alucinógenos da LSD com os efeitos estimulantes das anfetaminas. Pelo que temos verificado em estudos farmacológicos apurados e cuidadosos, a droga pode provocar hipertensão, sudorese, embotamento da visão e bruxismo.
Charles Schuster, da Universidade de Chicago, em pesquisas realizadas em cérebros de ratos e cobaias, verificou que a droga produz uma queda acentuada de serotonina, um neuro-hormônio encontrado no encéfalo e responsável, segundo se crê, pela regulação da atividade sexual, da agressão, do sono e da disposição de ânimo. Admite-se que, em altas doses, a droga pode provocar reações psicóticas e não de êxtase. Algumas pessoas sob seu efeito assumem posição fetal por vários dias.
Várias clínicas especializadas em tratamento de usuários de drogas nos Estados Unidos têm narrado episódios psicóticos em pessoas que têm usado o MDMA, e o FDA (Food and Drug Administration) considerou a substância como uma droga recreativa cujo abuso se propaga rapidamente e que pode causar psicose e dano permanente no cérebro. Na Europa, a grande preocupação não é com a cocaína e com a heroína, mas sim com o Êxtase, uma vez que pode provocar casos extremamente graves de dependência e tem produzido lesões irreversíveis no cérebro de alguns usuários.
Recentemente, tivemos notícias de que certa quantidade do Êxtase foi apreendida em São Paulo e no Rio. É preciso alertar as autoridades e a própria população para isso, pois a sua fama de "molécula do amor" pode ter um atrativo muito grande para certos tipos de personalidade. O fato é que estamos ainda longe de descobrir a substância sintética que, adaptando-se perfeitamente ao receptor químico celular ou neurônico correspondente, possa funcionar como droga artificial dos sentimentos amorosos. Se vamos chegar a isso, somente o futuro dirá.

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