São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995 |
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Madri recebe monocromias de Yves Klein
CELSO FIORAVANTE
Embora dedique mais espaço às monocromias e esculturas azuis, ``Yves Klein", título da mostra, abrange todas as fases da breve e intensa trajetória do artista. Estão presentes seus manifestos teatrais e arquitetônicos, pinturas com fogo e registros de performances. Sem qualquer tipo de concessão, entre 1954 e 1962, Klein deixou claro o conceito básico de sua criação: a eliminação de todo e qualquer elemento figurativo ou de experiência pessoal que interferisse na relação da obra de arte com seu meio e seu espectador. Ousado e ingênuo, Klein acreditava que a monocromia seria uma forma capaz de livrar a arte de todas as suas definições. Para apreciá-la, a relação estabelecida pelo espectador não poderia mais ser indireta, uma simples leitura do objeto observado. ``Sentir a alma sem explicá-la, sem vocabulários, e representar essa sensação... Esta, acredito eu, é uma das razões que me levou à monocromia", disse Klein em texto reproduzido pelo Reina Sofía. Com Klein, a relação do espectador com a obra deve ser direta. Ela atrai, mas não se explica. E nem aceita explicações, seja em sua fase de produção, seja em sua fase de fruição. Klein radicalizou este conceito ao criar uma cor azul-marinho luminosa que batizou ``I.K.B" (International Klein Blue). Em janeiro de 1957, vai mais longe e monta na galeria Apollinaire, em Milão, uma exposição composta apenas de telas monocrômicas em I.K.B., todas com as mesmas medidas, mas com preços diferentes. A retrospectiva de Madri exibe ainda, de forma cronológica, todos os momentos em que o artista aprofundou seu conceito de dissolução da relação entre a arte e as interferências do meio. Em um deles, Klein concebeu a ``venda de zonas de sensibilidade pictórica imaterial". O interessado em participar do ``autêntico valor imaterial da obra de arte" comprava do artista uma certa quantidade de ouro. Recebia o ouro e um recibo da compra, que era queimado no mesmo momento em que o ouro era jogado no mar ou em um rio, em um ponto de impossível recuperação. Toda transação deveria ser fotografada. O escritor italiano Dino Buzzati (``O Deserto dos Tártaros") comprou e sua aquisição está registrada em fotos de Harry Shunk, presentes na mostra. Texto Anterior: Tio Dave responde cartas de leitores Próximo Texto: Judô marca carreira artística Índice |
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