São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Mais dinheiro

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Está jorrando dinheiro nos cofres de Fernando Henrique Cardoso -muito mais do que ele próprio esperava. A arrecadação do mês passado, finalizada ontem, ultrapassou as expectativas mais otimistas dos técnicos.
Resultado: R$ 7,4 bilhões, mais do que 40% em relação ao mesmo período em 1994. Para se ter uma idéia, superou a arrecadação do último Natal, marcado pelo delírio de consumo.
É a segunda maior arrecadação da história da Receita Federal -a maior ocorreu em maio, quando bateu nos R$ 8,2 bilhões. Note-se que, neste ano, não está entrando o dinheiro do IPMF, o imposto sobre cheques.
Esses números são, de um lado, motivo de euforia -mas, por outro, deveriam servir de preocupação ao governo. Não se espere mais deste semestre o mesmo ritmo de produção e consumo. Portanto o governo vai ter que lutar ainda mais para cobrir seus rombos, que, como todos sabem, são frágeis.
O consumo ainda está alto, comparado ao mesmo período do ano anterior. Basta citar último levantamento da Associação Comercial de São Paulo: no mês passado as consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) foram 30,4% maiores do que em junho de 1994.
Mas ninguém acredita que essa euforia vá continuar. Já existem sinais de redução da atividade econômica -segundo a imensa maioria das estimativas, o Brasil deve fechar o ano com um crescimento de, no mínimo, 4% e, no máximo, 6%. O que já seria bom, mas nada parecido aos 10% do primeiro trimestre.
O fato é que a arrecadação de impostos não deve provocar o mesmo foguetório -a taxa de boas notícias vai sofrer redução, justamente num período em que as votações mais polêmicas desembocam no Congresso.
É mais uma dica para o governo falar francamente com a população, preparando-a para o fim da farra de consumo, tornando-a consciente do imprescindível aperto nos cintos.

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