São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Sevilha é a cidade das virgens em adoração

MARCELO REZENDE
DO ENVIADO ESPECIAL À ANDALUZIA

Em uma cidade como Sevilha, o visitante aprende rápido que o que há de mais moderno já virou ruína, enquanto o que é centenário sobrevive sob o frescor do novo. Sevilha é a capital da Andaluzia.
Uma lição demonstrada por um passeio pela margem do rio Guadalquivir, que atravessa a cidade do sul ao norte, onde os turistas apressados disparam suas máquinas em direção a um monumento de apenas três anos: os pavilhões da Expo 92.
A Expo, uma feira mundial que contou com a participação de 110 países, realizada em 1992, foi para Sevilha a grande esperança de modernização. Um plano fracassado, como demonstra seu alto índice de desemprego, o desmanche e ferrugem dos pavilhões, convertidos em atração turística provisória.
O que permanece em Sevilha é a tradição, materializada em sua catedral onde os séculos se sobrepõem, um edifício que mistura uma grande variedade de estilos arquitetônicos -como a Giralda, um mirante erguido onde antes era uma mesquita- e onde estaria sepultado Cristóvão Colombo.
E há também, ao lado da visão que a cidade tem de si mesma como uma moderna capital européia, com seus bares e hotéis sofisticados, restaurantes que misturam a culinária andaluza de pescados aos avanços quase gráficos da cozinha francesa, uma outra que se sustenta nos bairros tradicionais.
O bairro de Tristana é onde o morador se reconhece como espanhol e cristão, com suas ``bodegas" (adegas) que circundam o Guadalquivir, assinalando uma intensa vida noturna, garantida ao turista por apenas US$ 20.
Tristana é também onde os sevilhanos se reúnem para a missa dos domingos, discutem suas preferências, namoram e se afligem pela tourada que acontecerá à tarde.
No mês de junho, para a surpresa dos conservadores, touros morreram na arena com a renda revertida para o movimento gay espanhol. Mas, apesar da diversão, não há nada mais forte que a religião.
Todos os anos o governo gasta US$ 100 mil para a manutenção de suas 89 catedrais, espalhas por toda a Espanha e que estão, em boa parte, em Sevilha.
Nos feriados religiosos, as procissões se espalham pelas ruas, enquanto moradores exibem os altares que guardam em suas casas.
Ao menos em Sevilha, cada cidadão tem sua virgem, escreveu o poeta brasileiro João Cabral de Melo sobre a cidade onde morou.
Como os fiéis no centro da cidade, orando em nome de uma espantosa ``Nossa Senhora da Solidão".

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