São Paulo, quinta-feira, 6 de julho de 1995
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Tânger recusa todas as miragens da Europa

Cidade no Marrocos explica todo o passado Andaluz

MARCELO REZENDE
DO ENVIADO ESPECIAL A TÂNGER

Saindo do porto de Algeciras, na Espanha, o viajante chega a Tânger, no Marrocos, em uma viagem de uma hora e meia que se traduz em séculos, pelo mar do Mediterrâneo.
Tudo o que o turista conheceu como lenda e passado na Andaluzia se torna então o presente do mundo marroquino, com suas mesquitas e mulheres que atravessam as ruas em um tom distante para com o estrangeiro.
Tânger funciona como uma resposta à herança árabe da Espanha, que trata toda a cultura do islã como eco e ressonância.
Mas a cidade é também marcada pelos longos anos de colonização sofridas pelo país, estilizados em seus hotéis e cafés, construídos sob a influência da arquitetura francesa ou espanhola, e onde marroquinos à caráter ou tristemente ocidentalizados se concentram no movimento das ruas.
Uma cidade -e um país- notabilizado pela idéia de fuga, onde o espírito europeu se abrigava de sua própria cultura.
Como os franceses Gustave Flaubert (1821-1880), que ao lado de sua ``Madame Bovary" peregrinava por todo tipo de harém, enquanto Eugène Delacroix (1798-1863) os pintava.
Toda essa história é presente nos becos da Medina, a parte antiga de Tânger, onde o mais comum dos turistas pode se perder, pela variedade de ofertas e cores do comércio, entre os marroquinos.
Ruas que reforçam a idéia de Tânger estar associada ao exílio, onde as ruínas são as antigas casas de ocidentais ou árabes, conhecidos na cidade por suas orgias e encantamento com os marroquinos.
Para quem chega da Europa, a cidade parece, à primeira vista, estar longe do que um turista espera, espelhando menos segurança, ofertas de diversão ou conforto.
Mas assim como um ocidental entende tão pouco da reza em uma mesquita, uma cidade como Tânger oferece um outro tipo de turismo, que possibilita o abandono dos reconfortantes guias de viagem e convida ao mergulho em uma cidade livre
A possibilidade, então, de realizar uma ligação entre a história e a cultura, por meio das lindas praias do país ou das conversas entre os marroquinos.
A chance de colocar em foco, por fim, tudo o que a Andaluzia conta dos muçulmanos da África. Sem precisar recorrer à miragem que o ocidente sempre faz do ``outro" que usa vestes estranhas.

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